domingo, 27 de dezembro de 2009

Raízes históricas da teologia da prosperidade


Raízes históricas da teologia da prosperidade

Alderi Souza de Matos

O evangelicalismo brasileiro apresenta características apreciáveis e preocupantes. Entre estas últimas está o gosto por novidades. Líderes e fiéis sentem que, para manter o interesse pelas coisas de Deus, é preciso que de tempos em tempos surja um ensino novo, uma nova ênfase ou experiência. Geralmente tais inovações têm sua origem nos Estados Unidos. Assim como outros países, o Brasil é um importador e consumidor de bens materiais e culturais norte-americanos. Isso ocorre também na área religiosa. Um movimento de origem americana que tem tido enorme receptividade no meio evangélico brasileiro desde os anos 80 é a chamada teologia da prosperidade. Também é conhecida como “confissão positiva”, “palavra da fé”, “movimento da fé” e “evangelho da saúde e da prosperidade”. A história das origens desse ensino revela aspectos questionáveis que devem servir de alerta para os que estão fascinados com ele.

Ao contrário do que muitos imaginam, as idéias básicas da confissão positiva não surgiram no pentecostalismo, e sim em algumas seitas sincréticas da Nova Inglaterra, no início do século 20. Todavia, por causa de algumas afinidades com a cosmovisão pentecostal, como a crença em profecias, revelações e visões, foi em círculos pentecostais e carismáticos que a confissão positiva teve maior acolhida, tanto nos Estados Unidos como no Brasil. A história de seus dois grandes paladinos irá elucidar as raízes dessa teologia popular e mostrar por que ela é danosa para a integridade do evangelho.

Essek W. Kenyon, o pioneiro
Embora os adeptos da teologia da prosperidade considerem Kenneth Hagin o pai desse movimento, pesquisas cuidadosas feitas por vários estudiosos, como D. R. McConnell, demonstraram conclusivamente que o verdadeiro originador da confissão positiva foi Essek William Kenyon (1867-1948). Esse evangelista de origem metodista nasceu no condado de Saratoga, Estado de Nova York, e se converteu na adolescência. Em 1892 mudou-se para Boston, onde estudou no Emerson College, conhecido por ser um centro do chamado movimento “transcendental” ou “metafísico”, que deu origem a várias seitas de orientação duvidosa. Uma das influências recebidas e reconhecidas por Kenyon nessa época foi a de Mary Baker Eddy, fundadora da Ciência Cristã.

Kenyon iniciou o Instituto Bíblico Betel, que dirigiu até 1923. Transferiu-se então para a Califórnia, onde fez inúmeras campanhas evangelísticas. Pregou diversas vezes no célebre Templo Angelus, em Los Angeles, da evangelista Aimee Semple McPherson, fundadora da Igreja do Evangelho Quadrangular. Pastoreou igrejas batistas independentes em Pasadena e Seattle e foi um pioneiro do evangelismo pelo rádio, com sua “Igreja do Ar”. As transcrições gravadas de seus programas serviram de base para muitos de seus escritos. Cunhou muitas expressões populares do movimento da fé, como “O que eu confesso, eu possuo”. Antes de morrer, em 1948, encarregou a filha Ruth de dar continuidade ao seu ministério e publicar seus escritos.

Quais eram as crenças dos tais grupos metafísicos? Eles ensinavam que a verdadeira realidade está além do âmbito físico. A esfera do espírito não só é superior ao mundo físico, mas controla cada um dos seus aspectos. Mais ainda, a mente humana pode controlar a esfera espiritual. Portanto, o ser humano tem a capacidade inata de controlar o mundo material por meio de sua influência sobre o espiritual, principalmente no que diz respeito à cura de enfermidades. Kenyon acreditava que essas idéias não somente eram compatíveis com o cristianismo, mas podiam aperfeiçoar a espiritualidade cristã tradicional. Mediante o uso correto da mente, o crente poderia reivindicar os plenos benefícios da salvação.

Kenneth Hagin, o divulgador
O grande divulgador dos ensinos de Kenyon, a ponto de ser considerado o pai do movimento da fé, foi Kenneth Erwin Hagin (1917-2003). Ele nasceu em McKinney, Texas, com um sério problema cardíaco. Teve uma infância difícil, principalmente depois dos 6 anos, quando o pai abandonou a família. Pouco antes de completar 16 anos sua saúde piorou e ele ficou confinado a uma cama. Teve então algumas experiências marcantes. Após três visitas ao inferno e ao céu, converteu-se a Cristo. Refletindo sobre Marcos 11.23-24, chegou à conclusão de que era necessário crer, declarar verbalmente a fé e agir como se já tivesse recebido a bênção (“creia no seu coração, decrete com a boca e será seu”). Pouco depois, obteve a cura de sua enfermidade.

Em 1934 Hagin começou seu ministério como pregador batista e três anos depois se associou aos pentecostais. Recebeu o batismo com o Espírito Santo e falou em línguas. No mesmo ano foi licenciado como pastor das Assembléias de Deus e pastoreou várias igrejas no Texas. Em 1949 começou a envolver-se com pregadores independentes de cura divina e em 1962 fundou seu próprio ministério. Finalmente, em 1966 fez da cidade de Tulsa, em Oklahoma, a sede de suas atividades. Ao longo dos anos, o Seminário Radiofônico da Fé, a Escola Bíblica por Correspondência Rhema, o Centro de Treinamento Bíblico Rhema e a revista “Word of Faith” (Palavra da Fé) alcançaram um imenso número de pessoas. Outros recursos utilizados foram fitas cassete e mais de cem livros e panfletos.

Hagin dizia ter recebido a unção divina para ser mestre e profeta. Em seu fascínio pelo sobrenatural, alegou ter tido oito visões de Jesus Cristo nos anos 50, bem como diversas outras experiências fora do corpo. Segundo ele, seus ensinos lhe foram transmitidos diretamente pelo próprio Deus mediante revelações especiais. Todavia, ficou comprovado posteriormente que ele se inspirou grandemente em Kenyon, a ponto de copiar, quase palavra por palavra, livros inteiros desse antecessor. Em uma tese de mestrado na Universidade Oral Roberts, D. R. McConnell demonstrou que muito do que Hagin afirmou ter recebido de Deus não passava de plágio dos escritos de Kenyon. A explicação bastante suspeita dada por Hagin é que o Espírito Santo havia revelado as mesmas coisas aos dois.

Reflexos no Brasil
Os ensinos de Hagin influenciaram um grande número de pregadores norte-americanos, a começar de Kenneth Copeland, seu herdeiro presuntivo. Outros seguidores seus foram Benny Hinn, Frederick Price, John Avanzini, Robert Tilton, Marilyn Hickey, Charles Capps, Hobart Freeman, Jerry Savelle e Paul (David) Yonggi Cho, entre outros. Em 1979, Doyle Harrison, genro de Hagin, fundou a Convenção Internacional de Igrejas e Ministros da Fé, uma virtual denominação. Nos anos 80, os ensinos da confissão positiva e do evangelho da prosperidade chegaram ao Brasil. Um dos primeiros a difundi-lo foi Rex Humbard. Marilyn Hickey, John Avanzini e Benny Hinn participaram de conferências promovidas pela Associação de Homens de Negócios do Evangelho Pleno (Adhonep). Outros visitantes foram Robert Tilton e Dave Robertson.

Entre as primeiras manifestações do movimento estavam a Igreja do Verbo da Vida e o Seminário Verbo da Vida (Guarulhos), a Comunidade Rema (Morro Grande) e a Igreja Verbo Vivo (Belo Horizonte). Alguns líderes que abraçaram essa teologia foram Jorge Tadeu, das Igrejas Maná (Portugal); Cássio Colombo (“tio Cássio”), do Ministério Cristo Salva, em São Paulo; o “apóstolo” Miguel Ângelo da Silva Ferreira, da Igreja Evangélica Cristo Vive, no Rio de Janeiro, e R. R. Soares, responsável pela publicação da maior parte dos livros de Hagin no Brasil. Talvez a figura mais destacada dos primeiros tempos tenha sido a pastora Valnice Milhomens, líder do Ministério Palavra da Fé, que conheceu os ensinos da confissão positiva na África do Sul. As igrejas brasileiras sofreram o impacto de uma avalanche de livros, fitas e apostilas sobre confissão positiva. Ricardo Gondim observou em 1993: “Com livros extremamente simples, [Hagin] conseguiu influenciar os rumos da igreja no Brasil mais do que qualquer outro líder religioso nos últimos tempos”.

Conclusão
Além de apresentar ensinos questionáveis sobre a fé, a oração e as prioridades da vida cristã, e de relativizar a importância das Escrituras por meio de novas revelações, a teologia da prosperidade, através dos escritos de seus expoentes, apresenta outras ênfases preocupantes no seu entendimento de Deus, de Jesus Cristo, do ser humano e da salvação. A partir dos anos 80, várias denominações pentecostais norte-americanas se posicionaram oficialmente contra os excessos desse movimento (Assembléias de Deus, Evangelho Quadrangular e Igreja de Deus). Autores como Charles Farah, Gordon Fee, D. R. McConnell e Hank Hanegraaff, todos simpatizantes do movimento carismático, escreveram obras contestando a confissão positiva e suas implicações. Eles destacaram como, embora essa teologia pareça uma maneira empolgante de encarar a Bíblia, ela se distancia em pontos cruciais da fé cristã histórica.

No Brasil, três obras significativas publicadas em 1993 -- “O Evangelho da Prosperidade”, de Alan B. Pieratt; “O Evangelho da Nova Era”, de Ricardo Gondim; e “Supercrentes”, de Paulo Romeiro -- alertaram solenemente as igrejas evangélicas para esses perigos. Tristemente, vários grupos, principalmente os que têm maior visibilidade na mídia, estão cada vez mais comprometidos com essa teologia desconhecida da maior parte da história da igreja. Ao defenderem e legitimarem os valores da sociedade secular (riqueza, poder e sucesso), e ao oferecerem às pessoas o que elas ambicionam, e não o que realmente necessitam aos olhos de Deus, tais igrejas crescem de maneira impressionante, mas perdem grande oportunidade de produzir um impacto salutar e transformador na sociedade brasileira.


Alderi Souza de Matos é doutor em história da igreja pela Universidade de Boston e historiador oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil. É autor de A Caminhada Cristã na História e "Os Pioneiros Presbiterianos do Brasil".
asdm@mackenzie.com.br

A Origem do NATAL!



O Natal ou Dia de Natal é um feriado comemorado anualmente em 25 de Dezembro, que comemora o nascimento de Jesus de Nazaré.[2][3] A data de comemoração do Natal não é conhecida como o aniversário real de Jesus e pode ter sido inicialmente escolhida para corresponder com qualquer festival histórico Romano[4] ou com o solstício de inverno.[5] O Natal é o centro dos feriados de fim de ano e da temporada de férias, sendo, no Cristianismo, o marco inicial do Ciclo do Natal que dura doze dias.[6]

Embora tradicionalmente seja um feriado cristão, o Natal é amplamente comemorado por muitos não-cristãos,[1][7] sendo que alguns de seus costumes populares e temas comemorativos têm origens pré-cristãs ou seculares. Costumes populares modernos típicos do feriado incluem a troca de presentes e cartões, a Ceia de Natal, músicas natalinas, festas de igreja, uma refeição especial e a exibição de decorações diferentes; incluindo as árvores de Natal, pisca-piscas e guirlandas, visco, presépios e ilex. Além disso, o Papai Noel (conhecido como Pai Natal em Portugal) é uma figura mitológica popular em muitos países, associada com os presentes para crianças.[8]

Como a troca de presentes e muitos outros aspectos da festa de Natal envolvem um aumentou da atividade econômica entre cristãos e não cristãos, a festa tornou-se um acontecimento significativo e um período chave de vendas para os varejistas e para as empresas. O impacto econômico do Natal é um fator que tem crescido de forma constante ao longo dos últimos séculos em muitas regiões do mundo.

Etimologia
A palavra 'natal' do português já foi 'nātālis' no latim, derivada do verbo 'nāscor' (nāsceris, nāscī, nātus sum) que tem sentido de nascer. De 'nātālis' do latim, evoluiram também 'natale' do italiano, 'noël' do francês, 'nadal' do catalão, 'natal' do castelhano, sendo que a palavra 'natal' do castelhano tem sido progressivamente substituída por 'navidad' como nome do dia religioso.

Já a palavra 'Christmas' do inglês evoluíu de 'Christes maesse' ('Christ's mass') que quer dizer missa de Cristo.



História dos usos
Como adjetivo, significa também o local onde ocorreu o nascimento de alguém ou de alguma coisa. Como festa religiosa, o Natal, comemorado no dia 25 de dezembro desde o Século IV pela Igreja ocidental e desde o século V pela Igreja oriental, celebra o nascimento de Jesus e assim é o seu significado nas línguas neo-latinas. Muitos historiadores localizam a primeira celebração em Roma, no ano 336 D.C.

História
Segundo estudos, a data de 25 de dezembro não é a data real do nascimento de Jesus. A Igreja entendeu que devia cristianizar as festividades pagãs que os vários povos celebravam por altura do solstício de Inverno.

Portanto, segundo certos eruditos, o dia 25 de dezembro foi adotado para que a data coincidisse com a festividade romana dedicada ao "nascimento do deus sol invencível", que comemorava o solstício de inverno. No mundo romano, a Saturnália, festividade em honra ao deus Saturno, era comemorada de 17 a 22 de dezembro; era um período de alegria e troca de presentes. O dia 25 de dezembro era tido também como o do nascimento do misterioso deus persa Mitra, o Sol da Virtude.

Assim, em vez de proibir as festividades pagãs, forneceu-lhes um novo significado, e uma linguagem cristã. As alusões dos padres da igreja ao simbolismo de Cristo como "o sol de justiça" (Malaquias 4:2) e a "luz do mundo" (João 8:12) revelam a fé da Igreja n'Aquele que é Deus feito homem para nossa salvação.

As evidências confirmam que, num esforço de converter pagãos, os líderes religiosos adotaram a festa que era celebrada pelos romanos, o "nascimento do deus sol invencível" (Natalis Invistis Solis), e tentaram fazê-la parecer "cristã". Para certas correntes místicas como o Gnosticismo, a data é perfeitamente adequada para simbolizar o Natal, por considerarem que o sol é a morada do Cristo Cósmico. Segundo esse princípio, em tese, o Natal do hemisfério sul deveria ser celebrado em junho.

Há muito tempo se sabe que o Natal tem raízes pagãs. Por causa de sua origem não-bíblica, no século 17 essa festividade foi proibida na Inglaterra e em algumas colônias americanas. Quem ficasse em casa e não fosse trabalhar no dia de Natal era multado. Mas os velhos costumes logo voltaram, e alguns novos foram acrescentados. O Natal voltou a ser um grande feriado religioso, e ainda é em muitos países.

O ponto de vista da Bíblia
Geburt Christi de Geertgen tot Sint JansA Bíblia diz que os pastores estavam nos campos cuidando das ovelhas na noite em que Jesus nasceu. O mês judaico de Kislev, correspondente aproximadamente à segunda metade de novembro e primeira metade de dezembro no calendário gregoriano era um mês frio e chuvoso. O mês seguinte é Tevet, em que ocorrem as temperaturas mais baixas do ano, com nevadas ocasionais nos planaltos. Isto é confirmado pelos profetas Esdras e Jeremias, que afirmavam não ser possível ficar de pé do lado de fora devido ao frio.

Entretanto, o evangelista Lucas afirmava que havia pastores vivendo ao ar livre e mantendo vigias sobre os rebanhos à noite perto do local onde Jesus nasceu. Como estes fatos seriam impossíveis para um período em que seria impossível ficar de pé ao lado de fora em função do frio, logo Jesus não poderia ter nascido no dia em que o Natal é celebrado, e sim na primavera ou no verão. Por isso, a maioria dos estudiosos consideram que Jesus não nasceu dia 25 de dezembro, a menos que a passagem que narra o nascimento de Jesus tenha sido escrita em linguagem alegórica. Diga-se de passagem que visto que Jesus viveu trinta e três anos e meio e morreu entre 22 de março e 25 de abril, ele não poderia realmente ter nascido em 25 de dezembro.



Anúncio do anjo Gabriel e nascimento de Jesus
Ver artigo principal: Nascimento de Jesus
O nascimento de Jesus se deu por volta de dois anos antes da morte do Rei Herodes, denominado "o Grande", ou seja, considerando que este morreu em 4 AEC, então Jesus só pode ter nascido em 6 AEC. Segundo a Bíblia, antes de morrer, Herodes mandou matar os meninos de Belém até aos 2 anos, de acordo com o tempo que apareceu a "estrela" aos magos. (Mateus 2:1, 16-19 - Era seu desejo se livrar de um possível novo "rei dos judeus").

Ainda, segundo a Bíblia, antes do nascimento de Jesus, Octávio César Augusto decretou que todos os habitantes do Império fossem se recensear, cada um à sua cidade natal. Isso obrigou José a viajar de Nazaré (na Galileia) até Belém (na Judeia), a fim de registar-se com Maria, sua esposa. Deste modo, fica claro que não seria um recenseamento para fins tributários.


"Este primeiro recenseamento" fora ordenado quando o cônsul Públio Sulplício Quiríno "era governador [em gr. hegemoneuo] da província imperial da Síria." (Lucas 2,1-3 - O termo grego hegemoneuo vertido por "governador", significa apenas "estar liderando" ou "a cargo de". Pode referir-se a um "governador territorial", "governador de província" ou "governador militar". As evidências apontam que nessa ocasião, Quiríno fosse um comandante militar em operações na província da Síria, sob as ordens directas do Imperador.)

Sabe-se que os governadores da Província da Síria durante a parte final do governo do Rei Herodes foram: Sentio Saturnino (de 9 AEC a 6 AEC), e o seu sucessor, foi Quintilio Varo. Quirínio só foi Governador da Província da Síria, em 6 EC. O único recenseamento relacionado a Quirínio, documentado fora dos Evangelhos, é o referido pelo historiador judeu Flávio Josefo como tendo ocorrido no início do seu governo (Antiguidades Judaicas, Vol. 18, Cap. 26). Obviamente, este recenseamento não era o "primeiro recenseamento".

A viagem de Nazaré a Belém - distância de uns 150 km - deveria ter sido muito cansativa para Maria que estava em adiantado estado de gravidez. Enquanto estavam em Belém, Maria teve o seu filho primogénito. Envolveu-o em faixas de panos e o deitou em uma manjedoura, porque não havia lugar disponível para eles no alojamento [isto é, não havia divisões disponíveis na casa que os hospedava; em gr. tô kataluma, em lat. in deversorio]. Maria necessitava de um local tranquilo e isolado para o parto (Lucas 2:4-8). Lucas diz que no dia do nascimento de Jesus, os pastores estavam no campo guardando seus rebanhos "durante as vigílias da noite". Os rebanhos saíam para os campos em Março e recolhiam nos princípios de Novembro.

A vaca e o jumento junto da manjedoura conforme representado nos presépios, resulta de uma simbologia inspirada em Isaías 1:3 que diz: "O boi conhece o seu possuidor, e o jumento a manjedoura do seu dono; mas Israel não têm conhecimento, o meu povo não entende". Não há nenhuma informação fidedigna que prove que havia animais junto do recém-nascido Jesus. A menção de "um boi e de um jumento na gruta" deve-se também a alguns Evangelhos Apócrifos.

A estrela de Belém
Ver artigo principal: Estrela de Belém
Após o nascimento de Jesus em Belém, ainda governava a Judeia o Rei Herodes, chegaram "do Oriente à Jerusalém uns magos guiados por uma estrela ou um objecto controverso que, segundo a descrição do Evangelho segundo Mateus, anunciou o nascimento de Jesus e levou os Três Reis Magos ao local onde este se encontrava. A natureza real da Estrela de Belém e alvo de discussão entre os biblistas.

Visita dos magos
La Adoración de los Magos por Gil Vicente.Os "magos", em gr. magoi, que vinham do Leste de Jerusalém, não eram reis. Julga-se que terá sido Tertuliano de Cartago, que no início do 3.º Século terá escrito que os Magos do Oriente eram reis. O motivo parece advir de algumas referências do Antigo Testamento, como é o caso do Salmo 68:29: "Por amor do Teu Templo em Jerusalém, os reis te trarão presentes."

Em vez disso, os "magos" eram sacerdotes astrólogos, talvez seguidores do Zoroastrismo. Eram considerados "Sábios", e por isso, conselheiros de reis. Podiam ter vindo de Babilónia, mas não podemos descartar a Pérsia (Irão). São Justino, no 2.º Século, considera que os Magos vieram da Arábia. Quantos eram e os seus nomes, não foram revelados nos Evangelhos canónicos. Os nomes de Gaspar, Melchior e Baltazar constam dos Evangelhos Apócrifos. Deduz-se terem sido 3 magos, em vista dos 3 tipos de presentes. Tampouco se menciona em que animais os Magos vieram montados.

Outro factor muito importante tem a ver com a existência de uma grande comunidade de raiz judaica na antiga Babilónia, o que sem dúvida teria permitido o conhecimento das profecias messiânicas dos judeus, e a sua posterior associação de simbolismos aos fenómenos celestes que ocorriam.



Símbolos e tradições do Natal
Árvore de Natal
Árvore de Natal no Rockfeller Center em Nova Iorque, Estados Unidos.Entre as várias versões sobre a procedência da árvore de Natal, a maioria delas indicando a Alemanha como país de origem, a mais aceita atribui a novidade ao padre Martinho Lutero (1483-1546), autor da Reforma Protestante do século XVI. Olhando para o céu através de uns pinheiros que cercavam a trilha, viu-o intensamente estrelado parecendo-lhe um colar de diamantes encimando a copa das árvores. Tomado pela beleza daquilo, decidiu arrancar um galho para levar para casa. Lá chegando, entusiasmado, colocou o pequeno pinheiro num vaso com terra e, chamando a esposa e os filhos, decorou-o com pequenas velas acesas afincadas nas pontas dos ramos. Arrumou em seguida papéis coloridos para enfeitá-lo mais um tanto. Era o que ele vira lá fora. Afastando-se, todos ficaram pasmos ao verem aquela árvore iluminada a quem parecia terem dado vida. Nascia assim a árvore de Natal. Queria, assim, mostrar as crianças como deveria ser o céu na noite do nascimento de Cristo.

Na Roma Antiga, os Romanos penduravam máscaras de Baco em pinheiros para comemorar uma festa chamada de "Saturnália", que coincidia com o nosso Natal.

Músicas natalinas

Trombeteira em um concerto de músicas de Natal.Ver artigo principal: Cantigas de Natal
As canções natalinas são símbolos do Natal e as letras retratam as tradições das comemorações, o nascimento de Jesus, a paz, a fraternidade, o amor, os valores cristãos. Os Estados Unidos têm antiga tradição de celebrar o Natal com músicas típicas. No Brasil, esta tradição, além das familiares, só se tornou popular e comercial nos anos 1990, com o 25 de Dezembro lançado pela cantora Simone: Ao lançar, no ano passado, o disco natalino 25 de Dezembro, a cantora Simone quebrou um tabu. Ao contrário do que ocorre nos Estados Unidos e na Europa, os cantores brasileiros não têm o costume de lançar, no mês de dezembro, discos com músicas de Natal.[9]

Presépio
Presépio em Chicago, Estados Unidos.As esculturas e quadros que enfeitavam os templos para ensinar os fiéis, além das representações teatrais semi-litúrgicas que aconteciam durante a Missa de Natal serviram de inspiração para que se criasse o presépio. A tradição católica diz que o presépio (do lat. praesepio) surgiu em 1223, quando São Francisco de Assis quis celebrar o Natal de um modo o mais realista possível e, com a permissão do Papa, montou um presépio de palha, com uma imagem do Menino Jesus, da Virgem Maria e de José, juntamente com um boi e um jumento vivos e vários outros animais. Nesse cenário, foi celebrada a Missa de Natal.

O sucesso dessa representação do Presépio foi tanta que rapidamente se estendeu por toda a Itália. Logo se introduziu nas casas nobres européias e de lá foi descendo até as classes mais pobres. Na Espanha, a tradição chegou pela mão do Rei Carlos III, que a importou de Nápoles no século XVIII. Sua popularidade nos lares espanhóis e latino-americanos se estendeu ao longo do século XIX, e na França, não o fez até inícios do século XX. Em todas as religiões cristãs, é consensual que o Presépio é o único símbolo do Natal de Jesus verdadeiramente inspirado nos Evangelhos.

Decorações natalícias

Fontes do parque Ibirapuera em época natalina, foto por Silvio Tanaka.Uma outra tradição do Natal é a decoração de casas, edifícios, elementos estáticos, como postes, pontes e árvores, estabelecimentos comerciais, prédios públicos e cidades com elementos que representam o Natal, como, por exemplo, as luzes de natal e guirlandas. Em alguns lugares, existe até uma competição para ver qual casa, ou estabelecimento, teve a decoração mais bonita, com direito a receber um prémio.

Amigo secreto ou oculto
Ver artigo principal: Amigo secreto
No Brasil, é muito comum a prática entre amigos, funcionários de uma empresa, amigos e colegas de escola e na família, da brincadeira do amigo oculto (secreto). Essa brincadeira consiste de cada pessoa selecionar um nome de uma outra pessoa que esteja participando desta (obviamente a pessoa não pode sortear ela mesma) e presenteá-la no dia, ou na véspera. É comum que sejam dadas dicas sobre o amigo oculto, como características físicas ou qualidades, até que todos descubram quem é o amigo oculto. Alguns dizem características totalmente opostas para deixar a brincadeira ainda mais divertida.

Comemorações pelo Mundo
Cada país tem a sua forma de comemorar o Natal, inclusive países orientais.

Alemanha
O Natal na Alemanha é caracterizado, principalmente, pelo Advento. Começa quatro domingos antes do Natal, também é importante e festejado pelos alemães.



Referências
1,0 1,1 Christmas as a Multi-faith Festival—BBC News. Retrieved September 30, 2008.
Christmas, Merriam-Webster. Retrieved October 6, 2008.
"Christmas," MSN Encarta. Retrieved October 6, 2008. Archived 2009-10-31.
"Christmas", The Catholic Encyclopedia, 1913.
"Christmas", Encarta
Roll, Susan K., Toward the Origins of Christmas, (Peeters Publishers, 1995), p.130.
Tighe, William J., "Calculating Christmas". Archived 2009-10-31.
Newton, Isaac, Observations on the Prophecies of Daniel, and the Apocalypse of St. John (1733). Ch. XI.
A sun connection is possible because Christians consider Jesus to be the "sun of righteousness" prophesied in Malachi 4:2.
The Christmas Season. CRI / Voice, Institute. Página visitada em 2008-12-25.
Non-Christians focus on secular side of Christmas — Sioux City Journal. Retrieved November 18, 2009.
Poll: In a changing nation, Santa endures. Associated Press, December 22, 2006. Retrieved November 18, 2009.
Revista Veja, 4.12.1996

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

A ESTRATÉGIA DOS “PEQUENOS GRUPOS” COMO MÉTODO DE EVANGELISMO

Severino Brêda da Silva

RESUMO:
Este trabalho aborda a estratégia dos “pequenos grupos”, mais comumente denominado de “igreja em células” ou “grupos familiares” como estratégia de evangelismo. Apresenta a origem histórica, o conceito, o que fazem, quais as bases bíblicas e teológicas, aspectos negativos e quais os benefícios que justificam a utilização desse método de evangelismo para as igrejas atuais.

Palavras-chave: Pequenos grupos. Igreja em células. Método de Evangelismo.

ABSTRACT:
This paper discusses the strategy of "small groups", more commonly called the "cell church" or "family groups" as a strategy for evangelism. It presents the historical background, the concept, what they do, what are the biblical and theological foundations, the negative aspects and the benefits that justify the use of this method of evangelism for the church today.

Keywords: Small groups. Cell church. Method of evangelism.



1. Considerações iniciais
Devido a um grande despertar para a religiosidade neste século, se faz necessário adotar métodos e estratégias de evangelismo para alcançar interessados no evangelho de maneira eficiente e eficaz. No entanto, apesar desse despertar para a religiosidade, uma das marcas da sociedade atual é o individualismo. O apóstolo Paulo adverte-nos que nos últimos tempos a humanidade seria egoísta, hedonista e individualista. (II Timóteo 3:1-15).
De acordo com pesquisas recentes, 70% dos cristãos americanos crêem que podem ser bons cristãos sem fazer parte de uma igreja formal. Todavia, é impossível ser um cristão autêntico sem estar envolvido ou pertencer a uma comunidade de crentes. O fato de constar no rol de membros de uma igreja não significa ser um cristão biblicamente falando. Neste aspecto, a estratégia/metodologia dos pequenos grupos, mais comumente conhecida no meio evangélico como grupos familiares ou igrejas em células tem demonstrado ser muito eficiente para a pregação do Evangelho de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Os pequenos grupos tendem a quebrar as barreiras do individualismo e motiva os membros a trabalharem em prol do próximo, edificando-se uns aos outros, cumprindo desta forma o propósito de Deus aqui nesta terra, que é o serviço abnegado em favor dos necessitados. Diante disso, pode-se afirmar que a participação num pequeno grupo envolve relacionamento com Deus e envolvimento pessoal em prol da comunidade de crentes.
O presente trabalho de conclusão de curso tem por finalidade apresentar a origem histórica, o conceito de pequenos grupos, o que fazem, quais as bases bíblicas e teológicas que os justificam como método de evangelismo, quais os benefícios e a contribuição dos pequenos grupos para a igreja e, por fim, quais os aspectos positivos e negativos na implantação de um pequeno grupo.
Um dos principais referenciais teóricos que iremos utilizar será o Dr. Russel Burril, Ph. D em evangelismo pela Universidade Andrews nos Estados Unidos, baseando-se em sua obra “Como Reavivar a Igreja do Século 21: o poder transformador dos pequenos grupos (2009)” e outros tais como David Cox que defendem os pequenos grupos como método de evangelismo e estratégia de crescimento de igrejas.



2. Pequenos Grupos
2.1. Histórico
A história bíblica e secular tem apresentado a origem dos pequenos grupos desde os tempos do Antigo Testamento, especificamente no Livro de Êxodo, passando pelos primórdios da Igreja primitiva, no período do Novo Testamento, na época de John Wesley e no início do Adventismo primitivo até os dias atuais.
No Livro de Êxodo, capítulo 18, Moisés recebe o conselho de seu sogro, Jetro para que nomeiem auxiliares, pois ele se encontrava sobrecarregado e então “Moisés escolheu homens capazes de todo o Israel, e os constituiu por cabeças sobre o povo: chefes de mil, chefes de cem, chefes de cinqüenta e chefes de dez” (Êxodo 18:25-27).
A partir desse momento, Moisés estabeleceu líderes de mil, de cem, de cinqüenta e de dez, fazendo com que o seu ministério pastoral fosse aliviado e delegando responsabilidades de forma equilibrada.
No final do século XVIII, John Wesley foi um dos grandes nomes da Reforma Protestante e pioneiro na implantação dos pequenos grupos. Wesley implantou mais de 10.000 pequenos grupos, denominado de classes. As classes eram ferramentas evangelísticas e agentes discipuladoras. Wesley chegou a afirmar: “Estou convencido, mais do que nunca, que pregar como apóstolo, sem juntar depois os convertidos e treiná-los nos caminhos de Deus, é somente gerar filhos para o matador” (BURRIL, 2009, p. 107).
O Adventismo primitivo adotou o modelo do metodismo de Wesley, como método de evangelismo, devido os seus pioneiros serem a maioria proveniente do metodismo. Nesta época, devido ao grande despertar para as verdades bíblicas, havia um ambiente favorável para que os pequenos grupos se consolidassem e era a vontade de Deus para a Sua Igreja naquele momento.
Para Peter Wagner, apud Komiskey “a maioria das igrejas de hoje que têm derrubado barreiras de crescimento, uma após outra, são igrejas que deram ênfase às igrejas nas casas” (KOMISKEY, 2006, p. 8). Nota-se, portanto, que as igrejas que mais têm crescido são as que adotaram os pequenos grupos como filosofia e estilo de vida.


2.2. O que são e o que fazem?
O Voto da Comissão da Divisão Sul-Americana da Igreja Adventista do Sétimo Dia, em maio de 2007, nos apresenta a visão dos pequenos grupos:
Que os pequenos grupos caracterizem o estilo de vida da igreja e funcionem como a base para a comunidade relacional, crescimento espiritual e cumprimento integral da missão de acordo com os dons espirituais (WHITE, 2004, p. 115).
De acordo com David Cox as pesquisas feitas indicam que os melhores pequenos grupos são os que, por definição:
a) São uma parte essencial da vida e da estrutura da igreja;
b) Têm uma mentalidade de crescimento;
c) Funcionam relacionalmente (COX, 2000, p. 11).
Conforme as citações acima, podemos identificar várias características tais como os pequenos grupos como estilo de vida, como a base para comunidade relacional, crescimento espiritual e têm por objetivo principal o cumprimento da missão da igreja.
A comissão deixada por Jesus para a Sua igreja é “Portanto ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado” (Mateus. 28: 19 e 20). Os pequenos grupos possuem, portanto, uma missão e esta missão é o cumprimento da missão da igreja, que é ensinar, batizar e ensinar a guardar todas as coisas que o Senhor Jesus deixou para os seus primeiros discípulos e para os cristãos na atualidade.
3. Fundamentos bíblicos e teológicos
Toda ação da igreja deve estar fundamentada na Bíblia, a Palavra de Deus. Apresentaremos a seguir os princípios bíblicos e teológicos que embasam os pequenos grupos. Primeiramente, deve-se ter em mente que a adoção da estratégia e metodologia dos pequenos grupos originou-se na mente do próprio Deus.
Antes da criação já existia um pequeno grupo de três pessoas distintas, pois Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança” (Gênesis 1:26). Nesta frase nota-se que Deus não estava sozinho. Sabemos que as três pessoas da Divindade, ou seja, a Trindade participou da criação. Deduz-se então a partir disso a existência de um pequeno grupo de três pessoas da Divindade. Logo após a criação, o Senhor Deus fundou outro pequeno grupo, inicialmente com Adão e Eva. Posteriomente, com seus dois filhos Caim e Abel e, assim sucessivamente.
Com Moisés, o grande líder libertador do povo de Deus também não foi diferente. Moisés organizou o povo em pequenos grupos, atendendo ao conselho divinamente inspirado de seu sogro Jetro (Êxodo 18:17-15). Jesus, no início de seu ministério na terra formou um pequeno grupo com os doze discípulos (Marcos 3:13-15).
A igreja primitiva foi organizada em pequenos grupos com reuniões nos lares, por causa da perseguição dos judeus (Atos 2:42-47; 5:42). A escritora e pioneira do movimento Adventista Ellen G. White declara a respeito dos pequenos grupos:
Que pequenos grupos se reúnam à noite, ao meio-dia, ou de manhã cedo, para estudar a Bíblia. Que eles tenham um período de oração, para que possam ser fortalecidos, iluminados e santificados pelo Espírito Santo. Se vocês mesmos abrirem a porta para recebê-la, uma grande bênção virá sobre vós. Anjos de Deus estarão no meio da vossa assembléia. Sereis alimentados com as folhas da Árvore da Vida. Que testemunhos podeis dar do carinhoso relacionamento com os vossos colegas de trabalho nesses preciosos períodos em que buscais as bênçãos de Deus. Que cada um conte a sua experiência com palavras simples. Isso trará mais conforto e alegria à alma do que todos os agradáveis instrumentos de música que possam ser introduzidos nas igrejas. Cristo entrará nos vossos corações. Só por este meio podereis manter a vossa integridade” (WHITE, 2000, p. 195).
Ainda com relação aos pequenos grupos, a pioneira adventista afirma que é uma orientação de Deus para a igreja: “A formação de pequenos grupos como base de esforço cristão, foi me apresentada por Aquele que não pode errar”. “Formemos em nossas igrejas grupos para o serviço” (WHITE, 2004, p. 72).
Os pequenos grupos são os planos de Deus para a igreja no tempo do fim, tanto para as grandes quanto para as pequenas igrejas. Sabemos que a igreja de Deus será perseguida novamente e já não mais existirão prédios para os cristãos se reunirem. Com os pequenos grupos a igreja será fortalecida espiritualmente e sobreviverá aos ataques do inimigo de Deus e de todos os cristãos, Satanás.
4. Benefícios e Aspectos Positivos
Podemos afirmar sem sombra de dúvidas de que existem vários benefícios e aspectos positivos na adoção da estratégia e metodologia dos pequenos grupos. Dentre eles, destacam-se o crescimento no relacionamento com Deus, crescimento no conhecimento e estudo da Bíblia, na amizade e relacionamentos uns com os outros, atende e ajuda nas necessidades das pessoas, capacita os membros para o ministério cristão, identifica rapidamente os dons espirituais e são desenvolvidos e utilizados na obra de Deus, ajuda no cuidado pastoral da igreja, diminui a apostasia e ajuda na conservação de membros na igreja, ajuda a formar novos discípulos e mobiliza o maior número de membros na conquista de almas para o reino de Deus. Dentre as diversas vantagens dos pequenos grupos acima citados, analisaremos abaixo algumas delas.
4.1. Crescimento espiritual
Os pequenos grupos são o ambiente ideal e propício para atender às necessidades espirituais e materiais dos participantes ou não participantes. Desenvolve nos membros o desejo de alcançar maior espiritualidade e maturidade cristã. A igreja pode ser considerada como uma fogueira e nós como as brasas. Se afastarmos da fogueira, a nossa chama espiritual poderá se apagar. Neste aspecto, os pequenos grupos poderão ser as faíscas que ascenderá as nossas brasas para a seara do Senhor na conquista de almas para o seu reino.
4.2. Crescimento nos relacionamentos
O ser humano é um ser social e necessita estar constantemente em contato uns com os outros. Como diz o adágio: “Ninguém é uma ilha”. Diante disso, o ser humano necessita preencher as suas necessidades sociais de relacionamentos e atender a uma necessidade básica de pertencimento a um grupo. Neste aspecto, os pequenos grupos preenchem tais necessidades e carências, pois é um ambiente propício para o crescimento nos relacionamentos.
Quando um indivíduo se associa a uma nova igreja, ele necessita fazer novas amizades, pois os vínculos anteriores, na maioria das vezes são cortados. De acordo com especialistas, um membro que não ingressa num círculo de amizade após o seu batismo na igreja, dificilmente permanecerá na nova fé. Daí a importância do desenvolvimento de um novo círculo de amizades e relacionamentos na comunidade cristã.
4.3. Formação de discípulos
As igrejas em geral trabalham com a estratégia e metodologia de formação de discípulos. O próprio Jesus Cristo implantou um sistema de discipulado. Durante três anos e meio treinou e capacitou os doze discípulos para a missão da igreja.
Em Mateus Jesus nos deixou esta ordem expressa: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século”. (Mateus 28: 19,20). Diante dessa afirmação, pode-se deduzir que os pequenos grupos são o melhor ambiente para o ensino, capacitação e desenvolvimento de discípulos e formação de liderança.
4.4. Formação de liderança
Será de vital importância que nos pequenos grupos os líderes sejam pessoas comprometidas com a visão e a missão da igreja e sejam devidamente treinados e capacitados para a liderança dos pequenos grupos. A igreja necessita implantar um programa de capacitação e treinamento da liderança dos pequenos grupos, com encontros de aprendizado, inspiração, motivação e apoio mútuo entre os líderes, o ancião e o pastor da igreja.
Um líder de pequeno grupo deve reunir qualidades necessárias para desempenhar um bom trabalho, tais como: atuar como um sub-pastor, ter comprometimento e compreensão de princípios espirituais, ter um profundo relacionamento com Cristo, disposição para ajudar, paixão pela conquista de almas para Cristo, ser estudante assíduo da Bíblia, apto para o ensino e que também possa ser ensinado, ser responsável e acima de tudo, possuir um estilo de liderança servidora, baseado em Lucas 22:25-26. Enfim, para que os pequenos grupos prosperem, o líder deverá ser a peça chave e deverá comunicar a visão e missão da igreja e articular o propósito do movimento.
4.5. Plantio de novas igrejas
Além de promoverem os benefícios já citados anteriormente, os pequenos grupos também contribuem para o plantio de novas igrejas.
No entanto, para que os pequenos grupos cresçam e tornem-se novas igrejas, de acordo com as normas de procedimentos e orientações da Igreja Adventista do Sétimo Dia, eles deverão ter em mente a busca dos componentes de um crescimento eclesiástico, que são:
a) Visão e missão específicas; b) Membros envolvidos em vários ministérios; c) Ser uma igreja atraente para a comunidade; d) Ligação com o poder celestial através da oração; e) Amar incondicionalmente as pessoas; f) Preparar e capacitar novos líderes; g) Atrair visitantes e simpatizantes; h) Realizar evangelismo em equipe e através de duplas missionárias; i) Dividir-se para multiplicar e multiplicar para crescer (REVISTA PEQUENOS GRUPOS, 2005, p. 23).
5. Aspectos negativos
Dentre os vários aspectos que se consideram negativos na implantação dos pequenos grupos, destacam-se a falta de:
a) Liderança capacitada e treinada; b) Organização e compromisso dos membros; c) Preparo da igreja, da liderança e do pastor; d) Visão e missão obscuras por parte da liderança; d) Verdadeira Koinonia (comunhão); e) Persistência e motivação para o trabalho missionário; f) Oração, espiritualidade, consagração e perseverança (REVISTA PEQUENOS GRUPOS, 2005, p. 24).
Um pequeno grupo que apresente qualquer um destes aspectos negativos, dificilmente terá sucesso e a tendência será a sua extinção.
6. Metodologia de Funcionamento
O programa dos pequenos grupos está praticamente fundamentado na Bíblia (Atos 2:42 e 47) e também podem ser encontrados nos escritos da co-fundadora do movimento adventista, a Sra. Ellen White. A seguir, apresenta-se a seqüência de uma reunião de estudo relacional da Bíblia de um Pequeno Grupo, de acordo com manuais de instruções e orientações da Igreja Adventista do Sétimo dia:
1. Confraternização – recepção, colocando a conversa em dia e "quebra-gelo"; 2. Adoração – louvor, oração, meditação, testemunho, estudo; 3. Testemunho – planejamento evangelístico do grupo, oração intercessória, duplas missionárias; 4. Oração – oração individual, em duplas ou em grupo; 5. Estudo Relacional da Bíblia – ênfase na aplicação do texto à vida pessoal e comunitária (REVISTA PEQUENOS GRUPOS, 2005, p. 25).
1. Confraternização – É o momento em que o pequeno grupo desenvolve a amizade e o companheirismo entre os componentes. Durante a confraternização é criado um clima de participação de todos. O líder exerce um papel fundamental neste aspecto, iniciando a confraternização como forma de “quebra-gelo”. Todos devem participar livremente. Perguntas que podem ser feitas durante a confraternização: Como foi a semana? Aconteceu alguma coisa especial que gostaria de compartilhar com o grupo? Ajudou alguém durante a semana?
2. Adoração – Neste momento, os membros poderão louvar a Deus através de hinos, cânticos e salmos, meditações, testemunhos, etc.
3. Testemunho – Este é o momento em que os componentes do pequeno grupo partilham as suas atividades missionárias e espirituais que aconteceram durante a semana.
4. Oração – A oração é “a respiração da alma” de um pequeno grupo, como afirma Ellen White. Ela é indispensável para a sobrevivência de um pequeno grupo. Faz com que os membros se aproximem uns dos outros e fortalece a vida espiritual do pequeno grupo. Poderá ser realizado individualmente, em duplas ou em grupo.
5. Estudo Relacional da Bíblia – É o momento de se abrir a Palavra de Deus e usufruir do poder contido nela. A Bíblia é a fonte de todo o poder que vem de Deus. É um livro vivo e criativo que transforma o coração das pessoas. Neste momento o líder desenvolve o papel de instrutor e evangelista através de um estudo relacional, realizando aplicações práticas para a vida dos componentes do pequeno grupo e deverá contar com a participação de todos.
Funcionamento do Pequeno Grupo
Normalmente o pequeno grupo funciona numa casa cedida por um anfitrião ou anfitriã membro da igreja, uma vez por semana, podendo ser na sexta-feira, considerado o dia mais apropriado ou outro dia, com tempo aproximado de 60 a 70 minutos, com três a doze participantes. Caso tenha criança, escolher uma pessoa capacitada para cuidá-las.
Orientações que o líder deve dar nas primeiras reuniões
Nas primeiras reuniões dos pequenos grupos, o líder deverá dar as primeiras instruções quanto ao relacionamento interpessoal entre os membros:
1. Os membros são aceitos como são; 2. A participação é espontânea; 3. Os membros não tentarão modificar ninguém; 4. O objetivo é compartilhar a experiência uns com os outros; 5. Combinar quando serão convidados os interessados (aconselha-se convidar quando houver a consolidação do pequeno grupo, em torno de três meses após o início); 6. Fazer um compromisso com o grupo (REVISTA PEQUENOS GRUPOS, 2005, p. 26)
Compromisso de cada membro do Pequeno Grupo
Todos os componentes do pequeno grupo deverão firmar um compromisso na participação e envolvimento nas reuniões e nas atividades evangelísticas do grupo:
Chegarei a tempo para as reuniões; Se faltar avisarei; Ajudarei o grupo a ter uma experiência positiva; Participarei do evangelismo; Ajudarei o grupo a crescer e formar um novo grupo (REVISTA PEQUENOS GRUPOS, 2005, p. 27).
Oito Hábitos do Líder de um Pequeno Grupo
Todo líder de pequeno grupo deve ter em mente que está desempenhando a função de um sub-pastor e possui sob sua responsabilidade vários irmãos em Cristo, devendo zelar e cuidar da vida espiritual dos componentes do seu grupo e para tanto, deverá desenvolver hábitos espirituais saudáveis, tais como:
1. Sonhar em liderar um grupo saudável, que cresce e se multiplica;
2. Orar diariamente pelos membros do grupo;
3. Convidar semanalmente pessoas novas para visitar o grupo;
4. Contatar regularmente os membros do grupo;
5. Preparar-se para o encontro do grupo;
6. Mentorear um auxiliar de líder;
7. Planejar atividades de comunhão do grupo;
8. Comprometer-se com o crescimento pessoal (REVISTA PEQUENOS GRUPOS, 2005, p. 28).
7. Considerações finais
O presente trabalho de conclusão de curso teve por finalidade apresentar a estratégia e metodologia dos pequenos grupos como uma excelente ferramenta de evangelismo para as igrejas nos dias atuais. Apresentamos breves considerações iniciais, a origem histórica, o conceito e os fundamentos bíblicos e teológicos, benefícios e aspectos positivos e negativos e a metodologia de funcionamento dos pequenos grupos.
Pode-se afirmar que a vida do corpo da igreja encontra-se em suas células. Se a célula, que é a base de um organismo saudável não se multiplicar, o corpo também não se desenvolve. Quando as células se multiplicam, o corpo se desenvolve. As células são, portanto, os pequenos grupos, organismos vivos da igreja.
O Manual da Igreja Adventista afirma: “Um estudo sobre os movimentos da igreja mostra que todo grande reavivamento é influenciado pelo rápido acesso à Bíblia e pela reunião de crentes em grupos pequenos e amistosos” (MANUAL DA IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA, 2006, p. 68).
Neste aspecto pudemos constatar que os pequenos grupos promovem confraternização, estudo relacional da Bíblia, oração e testemunho entre os crentes de uma comunidade cristã e promovem um grande reavivamento espiritual na igreja, além de contribuir para a formação de liderança e motivar os membros da igreja para o trabalho missionário.
Diante disso, dentre os vários aspectos positivos que apresentamos, aconselhamos às comunidades cristãs que adotem os pequenos grupos como estilo e filosofia de vida, pois, as estatísticas têm demonstrado uma explosão numérica e um grande despertamento espiritual para as verdades bíblicas nas igrejas que adotam tal estratégia e metodologia de evangelismo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Bacharel em Ciências Contábeis - Universidade Federal de Mato Grosso
Bacharelando em Teologia - Universidade da Grande Dourados
Mestre em Teologia pela Escola Superior de Teologia de São Leopoldo – RS
E-mail: sbscontabil@hotmail.com

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COX, David. Pense em grande, pense em grupos pequenos, p. 11.
WHITE, Ellen G. Testemunhos para a igreja, 2000, p. 195.
REVISTA PEQUENOS GRUPOS: restaurando vidas. Encontro de Pastores e Coordenadores – UCOB/ABC – APLAC/PMTo – ASM – MMT – Ano 01 n. 01 maio 2005, p. 23.
Idem, p. 24.
Idem, p. 25
Idem, p. 26
Idem, p. 27
Idem, p. 28

BIBLIOGRAFIA
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BOYER, Orlando. Pequena enciclopédia bíblica. São Paulo: Editora Vida, 2006.
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BURRIL, Russel. Discípulos modernos: o desafio de Cristo para cada membro da Igreja. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2006.
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HYBELS, Bill & MITTELBERG, Mark. Cristão contagiante: descubra seu próprio jeito de evangelizar. São Paulo: Editora Vida, 1999.
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KOMISKEY, Joel. Crescimento explosivo da igreja em células. Curitiba – PR, Ministério Igreja em Células no Brasil, 2006.
MANUAL DA IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2006.
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______. Testemunhos para a igreja. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2000.

domingo, 15 de novembro de 2009

Céu, Inferno, Parousia e Juízo Final

Existem várias visões sobre o céu e o inferno. Na visão tradicional católica e protestante, céu e inferno devem ser interpretados literalmente. Já sob a ótica católica e protestante contemporâneas, o céu e o inferno são símbolos, metáforas que se referem à afirmação plena da vida ou da morte.
Quanto à “Parousia e o Juízo Universal” também podemos encontrar várias interpretações. Existe a afirmação de que o inferno é literal, é um lugar de tormento eterno. Outros já negam a existência de inferno, pois o inferno se refere à sepultura, “sheol”, em hebraico.
Já no meio protestante existem várias linhas teológicas: “pós-tribulacionistas”, “amilenistas”, “mid-tribulacionistas”, “meso-tribulacionista”, “pré-tribulacionista dispensacionalista”. Dentro dessas linhas alguns acreditam que a igreja será arrebatada secretamente. Alguns serão levados, outros serão deixados para passarem pela tribulação. Outros afirmam que a igreja se encontrará com Jesus nas nuvens do céu e enfrentaremos o Juízo Final. Outros afirmam que já está acontecendo um Juízo Investigativo de nossas obras. Haja confusão! Até parece que estamos diante da “Torre de Babel” novamente!.
Diante de tantas interpretações teológicas só posso afirmar com a plena certeza na Palavra de Deus de que Jesus voltará nas nuvens do céu literalmente, pois Apocalipse 1: 7 afirma que “todo o olho verá o Filho do Homem vindo nas nuvens do céu”. Não há outra forma de interpretarmos este versículo. Quando afirma todo é todo olho físico e não somente os olhos da fé. Até aqueles que traspassaram Jesus ressuscitarão para ver a Sua glória em seu retorno.
Quanto ao céu, a Palavra de Deus é categórica em afirmar que Deus habita no céu e Jesus foi nos preparar um lugar. Com certeza, este lugar deve ser o céu.
Quanto ao juízo final, todos haveremos de enfrentá-lo. Pode estar acontecendo agora ou num futuro próximo, pois a Palavra de Deus afirma que no céu existem livros e um dos principais é o “Livro da Vida do Cordeiro”. Se não houvesse julgamento, não haveria necessidade de livros para serem anotados os nossos atos.
Portanto, creio na volta literal de Cristo nas nuvens do céu. Não creio no arrebatamento secreto. Creio no milênio como se encontra no livro de apocalipse. Creio que toda a igreja se encontrará com Jesus nas nuvens do céu e não somente alguns como afirma a teoria do arrebatamento secreto. Teremos que passar por uma grande tribulação e perseguição antes da volta de Cristo. Não haverá segunda chance para os que ficarem, pois Deus ainda está nos dando a chance com a “porta da graça” aberta e compete a nós tomarmos uma decisão no tempo presente. Haverá um juízo final e as nossas obras já estão sendo examinadas desde agora. Não creio na afirmativa “uma vez salvo, salvo para sempre”, de que o crente não perde a salvação e sim o “galardão”. Se o crente se desviar do caminho, com certeza perderá a salvação. Não creio no inferno, pois inferno significa sepultura, “sheol” em hebraico. Os mortos vão para a sepultura e a morte é como um sono.
Portanto, este é o meu posicionamento teológico quanto aos temas acima. Posso até ser taxado de fundamentalista, mas ainda creio nas Escrituras Sagradas como a Palavra de Deus inspirada.

"Solla gratia, solla fide, solla scriptura"

Escatologia - Doutrina das Últimas Coisas

O termo “Escatologia”, vem do grego “éschatos” e “logia”, ou seja, é a reflexão racional, o estudo sobre as últimas coisas.
As últimas coisas, entretanto, tanto podem se referir a acontecimentos futuros, quanto a acontecimentos presentes, pois o tempo de Deus é diferente do nosso tempo. O tempo de Deus é “kairós”, enquanto o tempo de ser humano é “chronós”. Para Deus mil anos são como um dia e um dia é como mil anos.
Acredito que o momento decisivo de nossas vidas é quando a morte chega. Quando ela chega devemos estar preparados. Por isso, o preparo espiritual deve ser diariamente. Não sabemos a hora. Nem o próprio Jesus afirmou que sabia a hora de seu retorno. Nem tampouco nós pecadores, haveremos de saber o dia e a hora de retorno de Cristo, nem de nossa própria morte. Se é que estaremos vivos ou mortos quando do Seu retorno.
Todo cristão deve ter a plena certeza de que Deus restaurará todas as coisas ao seu estado original. No “Dia do Senhor” toda a violência, injustiça e opressão deste mundo serão exterminados e Deus nos enxugará toda lágrima, pois não haverá mais morte, nem dor, nem doença ou qualquer tipo de sofrimento.
Enquanto aguardamos a restauração de todas as coisas, devemos viver no tempo presente os valores do reino de Deus, pautados na paz, na justiça, misericórdia, amor e perdão ao próximo. O cristão não deve somente esperar os acontecimentos futuros, mas começar a praticar desde o momento de sua conversão, desde o momento que aceita a Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador.
Portanto, se quisermos morar no céu, devemos primeiramente começar a praticar os valores do reino de Deus aqui na terra. Existe um hino cantado pelo quarteto “Arautos do Rei” que diz que “o céu é aqui”. A nossa vida e o nosso lar dever ser, portanto, o início e um pedacinho do céu.

Ecumenismo Prático

Cremos que deveria haver apenas uma religião entre os cristãos, o Cristianismo. No entanto, o problema da unidade e do ecumenismo consiste basicamente na palavra “fundamentalismo”. O Cristianismo possui várias ramificações denominacionais e cada uma defende a sua doutrina com unhas e dentes e não abrem mão de maneira alguma.
De um lado temos o “fundamentalismo católico”, nos discursos do atual Papa Bento XVI, Joseph Ratzinger, onde o mesmo afirma que “extra ecclesia nulla sallus”, não há salvação fora da Igreja Católica. O papado defende os dogmas da Igreja católica e baseia a sua doutrina não somente nos livros canônicos, mas também nos apócrifos e na tradição da igreja.
De outro lado temos o “fundamentalismo protestante”, onde a maioria nega a autoridade papal e a considera como a “besta” do Apocalipse do final dos tempos. O protestantismo defende o “sacerdócio universal de todos os crentes”, rejeita os livros apócrifos e se pauta pelo princípio protestante “solla gratia, solla fide e solla scriptura”, " somente pela graça, pela fé e pela escritura”.
Diante disso, creio ser difícil a união doutrinal entre as igrejas. Entretanto, com relação ao “Ecumenismo Prático” como saída para promoção da vida e da dignidade da pessoa humana, acredito ser válido. Ao invés de as igrejas estarem realizando disputas doutrinárias e concorrendo no mercado religioso por adeptos, porque não desviarem tais esforços em conjunto para a defesa da vida e não provocarem mais derramamento de sangue?.
Defendemos a unidade na diversidade. Cada religião pode permanecer em sua crença, em seus dogmas, sem precisarem abrir mão de seus princípios doutrinários. Mas que isso não seja motivo de discórdias e de disputas religiosas. Devemos buscar a unidade em Jesus Cristo, pois Ele derrubou todas as barreiras da intolerância, do preconceito e da discriminação. Nele não existe acepção de pessoas. Somos todos cristãos, filhos de um mesmo Deus. Como pregar a unidade, se entre nós não existe concordância?
Portanto, devemos mostrar o exemplo da unidade da fé, do testemunho, do compromisso e do amor em Cristo e defendermos a promoção da dignidade do ser humano e da plenitude de vida.

Processo de desenvolvimento da consciência eclesial da Igreja Cristã

O processo de desenvolvimento da consciência eclesial pode ser classificada em ekklesía mística e ekklesía concreta. A ekklesía mística era a Igreja Universal enquanto corpo místico de Cristo. Já a ekklesía individual ou concreta expressava o caráter local da Igreja enquanto corpo de Cristo. O desenvolvimento não se deu apenas pelas influências e esforços paulinos, mas também por causa dos antecedentes históricos daqueles que se convertiam, ou seja, eram geralmente judeus ou pessoas que tinham algum tipo de influência proselitista do judaísmo e se reuniam em sinagogas helenistas. Com o surgimento e desenvolvimento da consciência eclesial da Igreja Cristã antiga surgem também as celebrações litúrgicas com os ritos do Batismo e da Ceia do Senhor ou Eucaristia. O Batismo é considerado como um rito de iniciação ou rito de passagem. Para que um indivíduo cristão possa fazer parte de uma comunidade cristã, depois de convertido, deve ser batizado. É um meio de purificação dos pecados, através da lavagem pela água. Ele se esquece do seu passado e inicia o processo de uma nova vida em Cristo Jesus. É o nascimento de uma nova vida como criatura no Reino de Deus. Quanto à forma do batismo, a maioria dos teólogos defende o batismo por imersão, tanto que no original a palavra batismo, em grego: baptizo significa imersão, submersão e emersão, ou seja, a pessoa deve ser mergulhada na água. No entanto, outras formas de batismo eram admitidas na igreja cristã primitiva e são praticadas até os nossos dias, tais como a aspersão e efusão. O que importava era o rito e não a sua forma. A Ceia do Senhor ou mais comumente conhecida como Eucaristia no catolicismo é a celebração mística com o corpo e o sangue de Jesus Cristo. O próprio Jesus enfatizou na última Ceia com os discípulos: “Isto é o meu sangue, o sangue da nova aliança, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados”. (Mat. 26:28). O catolicismo defende a transubstanciação do vinho e do pão materializados como sendo o próprio corpo de Cristo. Esta doutrina não possui base bíblica. O rito da Ceia do Senhor é apenas uma figura, uma simbologia do sacrifício que Cristo fez por nós. Portanto, representa o “memorial do sofrimento” de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, o qual sofreu e morreu na Cruz do Calvário, para a remissão de nossos pecados. Antes da institucionalização da Igreja, estes ritos poderiam ser realizados por qualquer cristão. A partir do II século, a administração de tais ritos passou para os bispos, sacerdotes oficiais da Igreja institucionalizada. Até os nossos dias, estes ritos são considerados essenciais e de suma importância para a comunidade cristã. São realizados por um pastor, sacerdote ou clérigo religioso nas comunidades como forma de iniciação e confirmação de novos adeptos na religião.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Qual é sua atitude?

Deus espera que cada um de nós seja um missionário vivo

Em tempos de muito comentário e preocupação com a gripe suína, quero convidar você a refletir em uma ilustração que recebi há alguns anos, mas que parece extremamente atual. Ela ajuda a avaliar nossa atitude em um período de forte compromisso com o testemunho e a missão. Afinal, este é o mês do batismo da primavera e tempo de preparo para o grande movimento de evangelismo, via satélite, com o pastor Mark Finley. Leia com atenção.

Em uma típica tarde de sexta-feira, você está lendo notícias que parecem sem importância. Uma delas fala de uma cidade muito distante onde morreram três pessoas de uma gripe totalmente desconhecida.Na segunda-feira, quando você acorda, ouve que já não são três, mas trinta mil pessoas mortas por causa da tal gripe, nas colinas remotas da Índia. Um grupo do controle de doenças foi investigar o caso. Na terça-feira, esse fato já é a notícia mais importante, ocupando a primeira página dos jornais em todo o mundo. Agora, o vírus já não está só na Índia, mas também no
Paquistão, Irã e Afeganistão. Então, uma notícia surpreende a todos: A Europa fecha suas fronteiras e a França não mais recebe voos da Índia nem de outros países em que haja comentários da tal doença. Por causa disso, você está ligado em todos os meios de comunicação. De repente, surge a informação de que, num dos hospitais da
França, um homem está morrendo devido a essa gripe misteriosa. Começa o pânico na Europa. As informações dizem que, quando alguém contrai o vírus, é questão de uma semana e nem percebe. Em seguida, tem quatro dias de sintomas horríveis e não resiste. A Inglaterra também fecha suas fronteiras, mas já é tarde. No dia seguinte, o presidente dos Estados Unidos também fecha as fronteiras de seu país para a Europa e a Ásia. Ele quer evitar a entrada do vírus no país. As pessoas começam a se reunir nas igrejas em oração pela descoberta da cura, quando, de repente, alguém entra aos gritos: “Liguem o rádio! Liguem o rádio! Duas mulheres morreram em Nova Iorque!” Em questão de horas, parece que o mundo inteiro foi invadido pelo vírus. Os cientistas continuam trabalhando na descoberta de um antídoto, mas nada funciona. De repente, vem a notícia esperada: Conseguiram decifrar o código de DNA do vírus. É possível
fabricar o antídoto. É preciso, para isso, conseguir sangue de alguém que não tenha sido infectado pelo vírus. Por todo o mundo, corre a notícia de que as pessoas devem
ir aos hospitais fazer análise do sangue e doá-lo para a fabricação do antídoto. Você, toda a sua família e alguns vizinhos vão ao hospital como voluntários, se perguntando: “Será este o fim do mundo?” De repente, o médico chama por um nome. Seu filho menor, que está ao seu lado, se agarra a sua camisa e diz: “Pai, esse é meu nome.” E, antes que você consiga reagir, seu filho é levado.Você grita: “Esperem!” E eles respondem: “Está tudo bem. O sangue dele está limpo, é sangue puro. Achamos que ele tem o sangue que precisamos para o antídoto.” Depois de cinco longos minutos, os médicos saem chorando e rindo ao mesmo tempo. O médico mais experiente se aproxima
de você e diz: “Obrigado, senhor. O sangue de seu filho é perfeito, está limpo e puro; o antídoto finalmente poderá ser fabricado.” A notícia se espalha por todos os lados. As pessoas estão orando e rindo de felicidade. Nesse instante, o médico se aproxima de você e de sua esposa dizendo: “Podemos falar com vocês um momento? Não sabíamos que o doador seria uma criança. Por isso, precisamos que vocês assinem uma autorização para usarmos o sangue do seu filho.” Quando você começa a leitura, percebe que não colocaram a quantidade de sangue que vão usar. Quando você pergunta, o sorriso do médico desaparece e ele responde: “Não pensávamos que fosse uma criança. Precisamos de todo o sangue do seu filho.” Você tenta questioná-lo, mas o médico insiste: “O senhor não compreende? Estamos falando da cura para o mundo inteiro. Por favor, assine! Nós precisamos de todo o sangue dele.” Você logo pergunta: “Mas não podem fazer uma transfusão?” A resposta é imediata: “Se tivéssemos sangue puro, poderíamos. Assine, por favor.” Em silêncio, e sem sentir a caneta na mão, você assina o documento. Logo perguntam: “Você quer ver seu filho?” Você caminha em direção à sala de emergência, onde seu filho está sentado na cama. Ele diz: “Papai, mamãe! O que está acontecendo?” Você segura a mão dele e responde: “Filho, sua mãe e eu o amamos muito e jamais permitiríamos que acontecesse com você algo que não fosse necessário. Você entende?” O médico volta e lhe diz: “Sinto muito, senhor, precisamos começar. Gente do mundo inteiro está morrendo. Saia, por favor! Dê as costas a seu filho e deixe-o aqui.” Enquanto isso, seu filho grita: “Papai, mamãe! Por que vocês estão me abandonando?” Na semana seguinte, fazem uma cerimônia para homenagear seu filho. Muitas pessoas ficam em casa dormindo, outras não comparecem ao evento porque preferem fazer um passeio ou assistir a um jogo na TV. Algumas ainda vêm com um sorrisofalso, como quem realmente não está se importando. Você tem vontade de parar e gritar: “Meu filho morreu por vocês! Não se
importam com isso?” (Autor desconhecido).
Por favor, no seu dia a dia, não deixe de anunciar essa salvação. Afinal, “se cada um de nós fosse um missionário vivo, a mensagem para este tempo seria rapidamente proclamada em todos os países, a cada povo, e nação, e língua” (Ellen G. White, Testemunhos Seletos, v. 3, p. 71). Este é um momento fundamental para isso. Qual será sua atitude?

Mensagem Pastoral - por Erton Köhler - Revista Adventista 10/2009
Erton Köhler é presidente
da Divisão Sul-Americana

Meu tempo de colégio

Meu tempo de colégio

Investir na educação adventista é edificar sobre a Rocha
Durante uma década, desfrutei a vida de internato:
cinco anos no Instituto Adventista de Ensino (IAE), e
cinco, no Educandário Nordestino Adventista (ENA).
Com exceção dos períodos de férias, nos quais vendia
livros e revistas para conseguir a bolsa escolar, passei
um sétimo de minha vida no “segundo lar”. E tenho
“doces recordações”.
Quando cheguei ao colégio para cursar uma parte
do Ginásio, conheci estudantes como Léo Ranzolin,
Assad Bechara, Ademar Quint, Joel Sarli, Ruy Nagel
e Evelyn Skrobot Paraná. Eu olhava para eles com
respeito e admiração. Léo Ranzolin, por exemplo,
era líder de jovens. Dinâmico e entusiasta, promoveu
inspiradores programas MV (hoje JA), num dos quais
senti o desejo de trabalhar para a causa do Evangelho.
Antes de ir para o colégio, ouvi pessoas falarem
sobre importantes personagens da escola, como
Jerônimo Garcia, Siegfried Kümpel, Albertina Simon,
Rodolpho Belz, Jerome Justesen, Renato Oberg,
Nevil Gorski, Orlando Ritter e tantos outros. Com o
passar dos anos, todos eles foram meus professores e
exerceram profunda influência em minha vida.
No ENA, conheci estudantes que também
deixaram sua marca: José Mascarenhas Viana, Arôvel
Moura, Izaías Andrade, Nalva Amorim e Gerusa
Bezerra. E professores como Waldemar Groeschel,
José Nóbrega, Ilse Hort, Robert D. Davis, Frederico
Gerling, Modesto Marques e Eduardo Zurita. A
maioria dos leitores não conhece nada sobre essas
pessoas, mas Deus as usou poderosamente para o bem
de milhares de alunos.
Em meu primeiro ano de colégio, um texto bíblico
me serviu de estrela-guia: Provérbios 3:1-8.
Quando abri a mala e peguei minha Bíblia, esses
versos estavam sublinhados. Um recadinho da
minha mãe me recomendava a leitura diária dessa
porção da Palavra de Deus. Até hoje leio esses versos,
especialmente o primeiro: “Filho Meu, não te esqueças
dos Meus ensinos, e o teu coração guarde os Meus
mandamentos.”
Meu “segundo lar” contribuiu muito para que
eu amasse a Palavra de Deus. Os cultos matinais
e vespertinos, as atividades espirituais do sábado,
as aulas de ensino religioso e o bom exemplo de
professores e colegas – tudo isso me ajudou muito.
Uma das coisas que aprendi no colégio foi a
solidariedade. Na segunda série ginasial, tive um
colega chamado Iwao. Ele não era adventista. Certo
dia, na hora do recreio, ele me viu encostado à parede
da cantina, com um livro na mão. “Rubens, todos os
alunos compram picolé ou bolacha e você se contenta
com leitura.” Ele não sabia que eu não tinha dinheiro
para guloseimas. O fato é que, daquele dia em diante,
ele partilhou o lanche comigo até o fim do ano. Nunca
mais vi meu amigo Iwao, mas ele me ensinou que
partilhar é mais importante do que receber.
Outra coisa importante na vida colegial é a música.
Cantei em quartetos (olá, meus colegas Luís Motta,
Joel Sarli, Aristone Luís Pereira, Marenus de Paula,
Wilson e Hélio Santos, Paulo Sarli, Malton Braff,
Roberto Conradi, Frederico Gerling, Izaías Andrade,
Moisés e Edgar Santos), quanta saudade! Um dia,
cantaremos junto ao Rio da Vida. E não vai demorar
muito! Também cantei em corais estudantis. Certa
vez, voltávamos de trem, após abençoada excursão
do Coral Carlos Gomes. No banco da frente, estava
a Helena Garcia. Numa curva da estrada, quando fui
pegar minha pasta cheia de livros, perdi o equilíbrio
e toda a minha “biblioteca” caiu pela janela, inclusive
uma Bíblia com muitas anotações. Na segunda-feira,
na hora do recreio, o professor Jerônimo Garcia, pai
da Helena, me entregou um pacote. Era uma Bíblia de
luxo, com a seguinte dedicatória: “Ao Rubens, com um
amplexo do Jerônimo Garcia”.
Quando olho para o passado e assisto ao filme da
minha passagem pelos colégios adventistas, vejo que
Deus tinha um propósito para mim. Aprendi muitas
coisas – ciências, línguas (inclusive um pouco de latim),
matemática, geografia, história, doutrina, teologia –
mas a estrela-guia foi e continuará sendo a Bíblia.
Pais, não existe maior investimento do que a
educação cristã. Disse Ramalho
Ortigão: “Em todo estado e em toda
condição social, o homem bemeducado
é um homem superior.”
Nesta edição, a matéria de capa focaliza a
importância da educação adventista. Como
editor, espero que essa ênfase ajude nosso povo a
entender o propósito das instituições de ensino.

Editorial Revista Adventista 10/2009 - por Rubens Lessa
Rubens Lessa é editor da
Revista Adventista.
rubens.lessa@cpb.com.br

domingo, 4 de outubro de 2009

A Capelania Hospitalar Como Prática Ministerial

Além de se tratar as doenças das pessoas, é importante tratarmos a alma, a vida espiritual. A prática ministerial no trabalho de capelania hospitalar deve se preocupar com pessoas e não apenas com doenças. Atrás de uma doença existe um ser humano que necessita de cuidados tanto físicos, quanto psicológicos e espirituais.

O capelão hospitalar é um colaborador do bem estar do paciente e o seu trabalho tem por objetivo principal consolar e aconselhar os pacientes, seus familiares e os profissionais que atuam em equipe num hospital.

Destacamos este pensamento onde se afirma que o objetivo da capelania é “levar renovação espiritual, apoio e consolo emocional. Essa ação é voltada aos pacientes, aos seus familiares e aos profissionais da saúde, procurando tornar o ambiente hospitalar o mais humano e confortante possível”.

Temos conhecimento de que o ser humano é um ser holístico e desde os tempos primórdios da medicina o emocional e o físico já estavam relacionados. Um dos precursores da medicina foi o grego Hipócrates, considerado o pai da medicina ocidental, que em sua época já realizava a relação entre corpo, alma e espírito.

Nos tempos modernos, pesquisas têm sido desenvolvidas no intuito de se descobrir a relação entre a recuperação de pacientes que praticam algum tipo de religiosidade ou fé e as estatísticas demonstram que há uma ligeira melhora destes pacientes.

Outro aspecto que destacamos é o aconselhamento com pessoas em estado terminal. É uma parte extremamente difícil ter que aconselhar uma pessoa em estágio final de sua vida. É nesse aspecto que considero indispensável a atuação do capelão hospitalar, pois nessa ocasião deverá possuir os conhecimentos bíblicos necessários para que se possa orientar o paciente a ter uma despedida dessa vida e uma tranqüila passagem para o mundo espiritual.

Enfatizamos também a importância do trabalho em equipe, pois um capelão não consegue desenvolver um bom trabalho sozinho. A sua equipe precisa estar bem estruturada, de acordo com as necessidades de cada cidade ou região. É indispensável uma boa qualificação para o sucesso deste trabalho e acima de tudo, é preciso ser vocacionado para esse trabalho.

O Ministério de Capelania Escolar

Para ser um capelão bem sucedido o primeiro pré-requisito será que ele se sinta vocacionado para este ministério. Sem vocação não há que se falar em sucesso na capelania.
A capelania tem por objetivo principal apoiar famílias de estudantes em escolas, com enfoque na solidariedade humana, no cuidado, aconselhamento e orientação quanto aos conflitos existenciais, sofrimento do ser humano em razão de distúrbios familiares e problemas pessoais.
O capelão deverá possuir uma boa formação humanística, principalmente em aconselhamento e teologia, cultura geral, boa personalidade, amável e estar sempre disposto a ouvir as pessoas. Na maioria das vezes as pessoas querem apenas ser ouvidas.
O capelão deve estar sempre bem apresentado, portando vestimentas descentes e totalmente higienizado, pois as pessoas julgam muito pela aparência física. A sua família deve ser bem estruturada e ele deve ter muita paciência, fé e sempre uma palavra de ânimo para conseguir lidar com todas as situações em que se depara. Deve ser um exemplo para a comunidade, pois também desenvolve um ministério pastoral, seja na escola, nos hospitais ou numa empresa.
O trabalho do capelão é indispensável. Dentre suas atividades de capelania destacamos a visitação a alunos, doentes em hospitais, orientação familiar, etc. Assim como todo ministro do evangelho, o capelão necessita agir com ética cristã em suas relações com seus aconselhandos.
Ele poderá desenvolver trabalhos sociais, palestras sobre qualidade de vida, recreações espirituais e promoção da dignidade da pessoa humana. Enfim, há um leque de possibilidades para se desenvolver o trabalho de capelania, tanto em escolas públicas ou privadas, quanto em hospitais, em empresas e organizações não governamentais.

A Prática Ministerial com Surdos

Destaco neste texto a necessidade de incluirmos todas as pessoas na pregação do evangelho e no plano da salvação, pois Deus não faz acepção de pessoas e jamais se esqueceu de alguma, não importando a sua classe social, credo, cor, ou origem étnica.
As ações de Jesus sempre foram inclusivas. Ele se preocupou com as viúvas, com os órfãos, os cegos, os surdos, os mudos, os deficientes físicos, etc. Ele veio para curar e salvar o perdido e oprimido pelo pecado. Ele jamais praticou algum tipo de discriminação.
Os fariseus estavam alicerçados em seus rituais, normas e leis cerimoniais. Enfatizam alguns aspectos da lei em detrimento do cuidado dos deficientes físicos. Acreditavam que as deficiências eram por causa do pecado.
No entanto, Jesus veio quebrar este preconceito arraigado nos costumes judaicos e veio trazer cura e saúde para todos os que sofriam devido suas deficiências físicas. Por isso podemos chamá-lo de “O médico dos médicos”.

A Prática Ministerial com Crianças e Adolescentes em Situação de Risco nas Ruas

O primeiro passo para que possamos diminuir essa população será a parceria da igreja com instituições públicas e privadas, tais como o conselho tutelar, o juizado da infância e juventude, organizações não governamentais, juntamente com as famílias dos menores em situações de risco.
Sem o apoio do poder público pouca coisa poderá ser realizada, pois muitas ações dependerão de espaços físicos e recursos financeiros para a implantação de ações objetivas e práticas na recuperação de menores.
Outro aspecto que deve ser levado em consideração são as políticas públicas de inclusão social. Muitos menores vão para as ruas para trabalharem porque são mantenedores financeiros em seus lares. No entanto, lugar de criança é na escola estudando e desenvolvendo suas potencialidades como ser humano.
Atualmente temos percebido a postura do poder público com relação a programas sociais, tal como “projovem”, onde o jovem ganha R$ 100,00 (cem reais) por mês para somente estudarem. Acontece que muitos deles acabam desistindo dos estudos. O trabalho de educação e conscientização com as famílias desses jovens será de suma importância, para que eles continuem seus estudos e possam ingressar no mercado de trabalho na idade adequada.
Uma equipe multidisciplinar deverá ser montada em parceria com a igreja e com instituições públicas e privadas para que estes jovens possam ser monitorados através de pastores, psicólogos, médicos, professores, juristas, etc., ou seja, toda criança tem o direito à proteção integral, tanto no aspecto físico, psicológico e espiritual e, desta forma possam ser reintegrados na sociedade, como cidadãos e seres humanos dotados de dignidade.

O Pastorado como Prática Ministerial

Diante das qualidades exigidas, relevância e importância, o ministério pastoral de fato, “...é uma das mais sublimes atividades que podem ser exercidas no reino de Deus”. Concordo plenamente com os requisitos e com as qualidades pessoais indispensáveis requeridas para o exercício do ministério pastoral.
No entanto, diante de tantas qualificações exigidas, ainda não me sinto preparado para assumir o ministério pastoral, pois, desde o início de meus estudos, sempre deixei claro que a minha opção ao ter escolhido o curso de teologia, foi com o objetivo de adquirir conhecimentos acadêmicos. Quem sabe num futuro próximo Deus prepare alguma coisa para o Teu servo! Tudo dependerá da vontade Dele.
Existem algumas coisas em minha vida pessoal que ainda precisam ser ajustadas. Uma delas é o desapego às coisas materiais. Como é difícil para quem já possui uma profissão estabilizada, ter que deixá-la para assumir um ministério que infelizmente ainda não é muito valorizado pela sociedade e até pela própria igreja!
Infelizmente, muitas igrejas não levam em consideração os requisitos indispensáveis de um futuro ministro do evangelho e acabam se precipitando, impondo as mãos sobre pessoas despreparadas e, isso acaba por prejudicar a obra de Deus.
É necessário, portanto, que se leve em consideração a vocação, os dons, o caráter e as qualidades indispensáveis de um futuro ministro do evangelho.
É óbvio que estes requisitos são essenciais para todos os ministérios desenvolvidos na igreja. No entanto, o ministério pastoral, como já afirmado, é uma das mais importantes funções desenvolvidas no reino de Deus e o pastor deve ser um exemplo para a sua comunidade e qualquer deslize, toda a igreja sofrerá por causa do seu mau testemunho. O sucesso de uma congregação muito dependerá da conduta moral de seu pastor.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

A Prática Ministerial Requer Liderança Cristã

Para que um líder cristão desempenhe e desenvolva adequadamente a sua prática ministerial necessita primeiramente estar sujeito à Cristo e à Sua Palavra. O primeiro passo é a submissão a Deus e obediência à Sua Palavra.
O líder necessita exercer a sua função com eficiência e eficácia e ser um líder servo. Ele deve sentir que é vocacionado para a obra e sentir o peso do chamamento de Deus. Deve estar disposto a realizar o trabalho que Deus lhe atribui com satisfação e responsabilidade.
Apesar das limitações do ser humano, Deus o habilita para a Sua obra, dando-lhe os dons e talentos necessários para o desempenho de uma boa liderança. O caráter do líder é de suma importância, pois um líder que não seja exemplo para a sua comunidade não merece crédito e será um péssimo exemplo para a Igreja.
Um líder exemplar deve possuir qualidades essenciais tais como visão, dedicação, capacidade de assumir riscos, ser responsável, honesto, exemplar, ser flexível e sensível aos problemas dos liderados, possuir influência na comunidade em que atua, saber ouvir e principalmente possuir integridade de caráter e a comunidade deve confiar inteiramente nele.
Sem estas características ou qualidades, dificilmente um líder terá sucesso em sua prática ministerial, pois o líder deve ser irrepreensível, esposo de uma só mulher, deve possuir retidão de caráter, ser um líder servo, seguindo o exemplo de Jesus Cristo, que veio a este mundo para servir e não para ser servido.

A Vocação nas Práticas Ministeriais

Assim como temos dons para exercermos algum tipo de profissão, para exercermos uma determinada prática ministerial devemos ser vocacionados para tal.
É o Senhor Deus quem nos chama e quando Ele nos chama providencia os meios para que sejamos capacitados para sua obra, seja através da vida cotidiana prática ou através de um curso teológico. Deus toma a decisão e apenas somos instrumentos em Suas mãos quando deixamos que a Sua maravilhosa graça trabalhe em nós.
Foi o próprio Jesus quem escolheu os seus discípulos e não o contrário. Ele os escolheu um a um e todos, ao sentirem o chamado do Mestre obedeceram.
Não podemos confundir a vocação com talentos naturais, tradição familiar, com a aprovação em vestibulares teológicos ou com frustração e a falta de sucesso profissional. Se fosse assim, Deus chamaria apenas os fracassados em suas profissões. No entanto, Ele deseja que Seus filhos sejam vencedores em todas as esferas da vida.
O Senhor Deus olha o interior e não o exterior do homem, pois conhecimento e erudição não são pré-requisitos para o ministério eclesial. Caso contrário, Ele chamaria apenas os mais preparados intelectualmente.
Portanto, existem vários fatores para que o vocacionado possa sentir o chamado de Deus. Além de sentir a convicção pessoal do chamado de Deus, também precisa da participação humana na vocação. Ele necessita da aprovação da Igreja, pois ela será o termômetro para identificar se um indivíduo possui o chamado de Deus e as qualificações necessárias para o desempenho do futuro ministro do evangelho.

Entendendo as práticas ministeriais

Atualmente exerço na congregação em que freqüento (Igreja Adventista do Sétimo Dia), a função de líder de pequenos grupos (igrejas em células) e professor de escola sabatina, também denominada de professor de “escola dominical” em outras denominações evangélicas.
Desde que senti o chamado do Senhor Jesus para a Sua seara sempre tive a vocação para o ensino bíblico. Este é um departamento no qual me adapto muito bem e sinto prazer em exercê-lo.
Acredito que o presente curso de teologia veio trazer os subsídios teóricos e práticos para uma função que exerço na prática há mais de oito anos. Na igreja podemos encontrar várias práticas ministeriais diante da grande diversidade de dons dos membros e o curso teológico possui a função de nos qualificar para tal mister.
No curso de teologia recebemos não somente conhecimentos teóricos provenientes das disciplinas bíblicas, mas também adquirimos conhecimentos de outras ciências humanas auxiliares, tais como a filosofia, a sociologia, a psicologia, a metodologia, etc.
Estes conhecimentos das ciências auxiliares possuem a função de capacitar o teólogo para a atuação diante da sociedade como ministro do evangelho, nas comunidades, empresas, instituições e em vários grupos onde necessitam de um profissional qualificado academicamente.
Diante disso, podemos afirmar que o curso de teologia é de suma importância para a prática ministerial e possui as condições e subsídios teóricos necessários para o sucesso do vocacionado a ministro do evangelho

sábado, 5 de setembro de 2009

O preço do chamado

O perigo do desgaste ministerial

Os caminhos que levam à carreira eclesiástica podem até variar: das salas de aula de um seminário teológico à consagração direta ao ministério após anos de dedicação e formação numa outra função. No entanto, o que costuma ser igual em todos os casos é o desejo e a expectativa que transbordam no coração do novo pastor. Mas, nem tudo são flores. Ao contrário. Entre o chamado e a consolidação ministerial, muitos desafios têm de ser superados dia a dia. O suor, na maioria das vezes, se mistura às lágrimas e ao longo do tempo as dificuldades acabam interrompendo o sonho de muitos que um dia abdicaram de tudo para se dedicar exclusivamente à igreja.

De acordo com levantamento do Ministério de Apoio a Pastores e Igrejas (Mapi), cerca de 80% das disciplinas dos seminários no país estão voltadas para formar teólogos e não pastores ou líderes. Na visão da entidade, os cursos teológicos, se quiserem ser diferenciais na vida dos futuros ministros, precisarão focalizar em novas matérias na grade curricular como gestão, trabalho em equipe, mentoria, discipulado de líderes, princípios de educação de adultos, a chamada andragogia, resolução de conflitos e terapia familiar. Somente assim, formandos deixarão de sair das salas de aula apenas com conhecimento teórico, mas também entendendo da amplitude que é apresentada na vida eclesiástica cotidiana.

O medo de não corresponder – a Deus e as pessoas ao redor – é apontado pela entidade como um dos fatores responsáveis por grande parte das desistências do ministério e fracassos. A necessidade de aceitação, de corresponder, de mostrar trabalho e de realização são desafios internos a serem vencidos. Muitos pastores, em decorrência disto, acabam entrando no ativismo desenfreado e abrem mão dos fundamentos soberanos tão importantes no início do ministério, como oração, Palavra, obediência e integridade.

“Mudar o paradigma de “super-homem” – tenho que ser forte - e buscar apoio de outros colegas pastores e de um mentor mais experiente é o melhor caminho”, enfatiza Marcelo Fraga, coordenador do Mapi no Nordeste e pastor da Igreja Batista Filadélfia, em Natal/RN. A solidão ministerial e as pressões por conquistar um ministério de sucesso agravam estes fatores. De acordo com ele, boa parte dos pastores morre com problemas relacionados à pressão arterial e infarto. Pesquisas recentes mostram ainda que apenas 1/3 dos líderes cristãos terminam bem a carreira ministerial, enquanto os outros 2/3 não conseguem alcançar seu pleno potencial e apresentam quadros de frustração.

Pastor Joel Stevanatto, presidente da OBPC do Mandaqui, em São Paulo, é presidente da Missão Desafio

Formando teÓlogos, nÃo pastores

O ministério é um lugar de intensa pressão – e isso é inquestionável. Soma-se a isso, o fato de a igreja estar sempre dispensando atenção redobrada a cada passo do jovem pastor, a fim de constatar se ele irá suportar as altas temperaturas do trabalho eclesiástico. Mestre de Teologia em Estudos Bíblicos pelo International Biblical University e professor na cadeira de Teologia do Novo Testamento, Marcos André Cândido vive na pele todo esses desafios. Com apenas 27 anos de idade, é há um ano um dos pastores da Igreja O Brasil para Cristo em Nova Friburgo, Região Serrana do Rio de Janeiro. Ele acredita que, caso a formação teológica do novo ministro tenha sido enriquecida por um corpo docente experimentado nos laboratórios da vida eclesiástica, certamente estará um passo à frente dos demais. “Nossos seminários estão repletos de Mestres em Teologia, mas que são neófitos na prática ministerial”.

Pastor presidente da igreja O Brasil para Cristo do Mandaqui, em São Paulo, com mais de 1.200 membros sob sua responsabilidade direta, Joel Stevanatto afirma que a inexperiência pode produzir a sensação no coração do pastor de convicção absoluta e isso pode acabar levando o novo líder a uma (perigosa) independência de Deus. “Nesse caminho ele se torna precipitado em decisões e dependendo do perfil de cada novo pastor os sintomas serão expressos de maneiras diferentes”, frisa.

É nesse momento que algumas reações podem surgir com maior intensidade e revelar os que são sonhadores e começam a planejar coisas mirabolantes e terminam no campo da frustração, e outros que são medrosos e acabam completamente paralisados. Aliás, o bombardeio a qual está submetido quem está à frente de uma igreja, sobretudo em se tratando de um líder inexperiente, pode gerar uma série de problemas de ordem psicossomática, como síndrome do pânico, em graus mais elevados, e também de ordem física, como arritmia cardíaca, dificuldades na fala e gastrite –esta última entre as mais comuns.

“Na verdade, tudo isso tem como causa primária a difícil correlação entre a ansiedade pelos resultados e os resultados em si de um trabalho que se inicia. Uma expectativa frustrada pode ser fatal”, alerta a psicanalista Sueli de Almeida, que diz ainda ser necessário em muitos casos o acompanhamento de um terapeuta.

A diversidade cultural, de faixa etária e social não consegue resumir todo o leque de desafios para quem assume a responsabilidade de conduzir um povo. Na verdade, é apenas parte disso. Neste pacote há espaço ainda para a desconfiança de líderes mais experientes, que muitas vezes se sentem ameaçados pelo novato, a falta de material humano para o desenvolvimento de projetos e ações que vão garantir maior respaldo ao trabalho, e ainda a ausência de recursos financeiros que impede a realização de novos trabalhos. Neste momento, criatividade e perseverança parece ser a receita para quem pretende seguir adiante. Por mais paradoxal que seja o momento de maior fragilidade de um pastor é justamente não querer demonstrar a sua fragilidade. Alguns enfrentam problemas sérios pessoais, eclesiásticos e por não terem sidos treinados a buscar ajuda arriscam numa solução. Um dos coordenadores da Equipe de Liderança do Sepal (Servindo Pastores e Líderes), no Rio de Janeiro, Ayr Correa Filho garante que pedir auxílio a pastores mais experientes não é sinal de fraqueza, mas de sabedoria do novo ministro.

“Pastor precisa demonstrar que é gente como demais membros da sua igreja. Basta se apresentar para ser pastoreado também. Isto o torna mais forte e capaz”, aposta Ayr, que é o pastor presidente da Terceira Igreja Batista em Rocha Miranda, no Rio, e tem bacharelado em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil.

Por certo, o maior temor de um pastor recém-consagrado é, mesmo sendo um pastor de direito, não se tornar um pastor de fato. Ter o título, mas não exercer a influência pastoral na vida das pessoas, é inquietante, quase um fantasma. Há um provérbio de liderança que diz: “Aquele que pensa que lidera, mas não tem seguidores, está apenas passeando”. O grande temor, sem dúvida, é passear ao invés de apascentar.

Daniel Galvão
EDIÇÃO 86 - REVISTA ENFOQUE GOSPEL

Diálogo inter-religioso

Entre fevereiro e julho de 2006, pesquisadores da Argentina, Brasil, Nicarágua e Peru ouviram lideranças eclesiásticas e institucionais a respeito do ecumenismo na América Latina. A pesquisa, a pedido da Assembléia Geral do Conselho Latino Americano de Igrejas (Clai), foi apresentada em Buenos Aires, capital da Argentina, e traçou um perfil sobre o movimento. Um desses pesquisadores foi Darli Alves de Souza, de 39 anos. Doutorando em Ciências da Religião pela PUC e membro da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil (IPIB), nesta entrevista à Enfoque ele afirma que o ecumenismo não é utopia e que é preciso sair do conceito reduzido de mesa de comunhão estritamente cristã e buscar respeito e entendimento com outras culturas e religiões. O pesquisador defende ainda que a mesa da comunhão deva dar acesso aos excluídos que estão espalhados pelo planeta.

ENFOQUE – Qual é a síntese do movimento ecumênico na América Latina?

DARLI ALVES – É a busca da unidade em meio à riqueza da diversidade do povo de Deus. Isso se consolida por meio de várias iniciativas na área dos direitos humanos, juventude, saúde, meio ambiente e reflexões bíblico-teológicas, entre várias outras.

ENFOQUE – No Brasil, qual é a realidade desse movimento?

DARLI ALVES – A realidade é a busca de unidade e não-duplicação de esforços através da construção de redes de articulação para atuar de maneira concreta dentro e fora das igrejas. É necessário compreender que o ecumenismo não se dá apenas no espaço eclesiástico. Ele se dá também em várias outras iniciativas da sociedade, como, por exemplo, em entidades que não têm vinculação direta com alguma igreja.
A dimensão ecumênica vai além da dimensão religiosa; caminha na direção da integridade da natureza e respeito ao meio ambiente. Todas essas questões são integrantes de uma concepção ampla e adequada de ecumenismo. Portanto, quando se participa de iniciativas que envolvem direitos humanos e ambientais, elas são exemplos de participação ecumênica, muito embora o movimento ecumênico seja muito mais conhecido por suas iniciativas vinculadas ao cristianismo de maneira geral.

ENFOQUE – A que conclusão foi possível chegar através dessa pesquisa? O que há de novo, se comparado aos outros países ouvidos?

DARLI ALVES – O que se pôde perceber é que não há diferenças significativas em termos latino-americanos. Há, sim, muito mais elementos em comum nesse sentido. Um desses desafios é a necessidade de encontrar novos paradigmas que possam fazer frente aos desafios que novas realidades sociais e eclesiais apresentam. Isso vai melhorar a incidência pública, ampliar os mecanismos de inclusão e reconhecer que os caminhos da unidade se constroem a partir da diversidade de expressão da experiência ecumênica – e que estas são protagonistas na construção de pontes entre a igreja e a sociedade.

ENFOQUE – O que é preciso para aprofundar o diálogo entre protestantes e católicos e eliminar tendências sectárias e hegemônicas?

DARLI ALVES – É necessário ter uma cultura de respeito para enxergar a riqueza da diversidade do povo cristão. Cada ramo do cristianismo tem o seu valor e sua contribuição a dar para que o mundo em que vivemos possa ser melhor em todos os sentidos. Somente um espírito e uma mentalidade de paz, cooperação e solidariedade poderão levar ao completo entendimento e unidade entre os povos, não só cristãos, mas de outras religiões também. Um elemento que deve ser superado é a sede de poder que por vezes permeia as reflexões e discussões. É necessário superar a mentalidade de que quantidade de fiéis seja sinal de graça, poder e sucesso.

ENFOQUE – Há alguma razão e estigma para o ecumenismo ser demonizado no Brasil, principalmente entre os pentecostais e neopentecostais? O que é verdade e o que é mentira acerca desse tema?

DARLI ALVES – O ecumenismo foi estigmatizado no período da ditadura militar no Brasil, entre os anos 60 e 70. Nesse período, certas lideranças cristãs, cooptadas pelo sistema ditatorial perverso, afirmavam que ser ecumênico era ser comunista, ser contra os interesses da nação, e em setores mais radicais, coisa do demônio. Isso caiu no senso comum do imaginário cristão, principalmente nos setores conhecidos como evangélicos e pentecostais do protestantismo brasileiro.

A meu ver, não há qualquer motivo ou razão para que se associe ecumenismo com coisa do demônio ou algo que o valha. O que se pretendia na época mencionada acima era uma sociedade mais justa e igualitária em meio a tanto cerceamento das liberdades mínimas da pessoa humana. As lideranças ecumênicas do Brasil e da América Latina, em geral, prestaram um excelente serviço não só de reflexão bíblico-teológica como de ação libertária das ações violentas e opressoras.

Esses líderes ecumênicos de vanguarda foram verdadeiros baluartes na busca de garantir uma vivência libertária do Evangelho de Jesus Cristo. Levantaram a sua voz profética contra os abusos das autoridades constituídas da época e, por isso, foram perseguidos, torturados e até mortos. Muitos deles foram delatados por líderes de dentro de suas próprias igrejas locais, e nem por isso se calaram ou deixaram de agir. O grande legado que possuímos dessa geração de profetas e profetisas ecumênicos foi o rompimento do sistema opressor para, junto com outras lideranças de outros setores da sociedade, construir um país mais democrático, mais igualitário e mais humano.

ENFOQUE – Por que alguns itens do ecumenismo não saem do papel? Há muito discurso e pouca prática?

DARLI ALVES – Quem afirma isso é porque não conhece a realidade ecumênica e suas ações. Um olhar mínimo para a realidade faz com que esta pergunta caia por terra completamente. Há muitas ações que não estão na mídia e que fazem parte da ação prática do ecumenismo. Muitas vezes o movimento ecumênico faz o trabalho da “formiguinha” e obtém grandes resultados que, por vezes, não são atribuídas às suas ações.

ENFOQUE – Quais são os prós e os contras do ecumenismo? E que conseqüências sobre as igrejas haveria se elas abrissem mais espaço para esse tipo de movimento?

DARLI ALVES – Não vejo qualquer elemento contra o ecumenismo. O que se deve ter é cuidado para não confundir ecumenismo com ajuntamento de igrejas ou religiões. Isso, sim, representa um grande perigo para o ecumenismo, mas até o presente momento, eu não visualizo nenhuma iniciativa verdadeiramente ecumênica que vá nessa direção. Para aquelas igrejas que não têm a oportunidade de participar desse movimento de maneira mais direta, estão perdendo uma grande chance de fortalecer sua própria identidade, trocar experiências com irmãos e irmãs de fé, bem como com iniciativas que não estão vinculadas diretamente ao cristianismo.

Ser ecumênico é, para mim, um pressuposto básico para ser cristão. Além do mais, é através da riqueza da experiência das diferentes igrejas espalhadas pelo Império Romano, no período apostólico, que podemos nos inspirar para agir ecumenicamente e participar do movimento sem medo de estarmos sendo contraditórios com a Bíblia.

ENFOQUE – O ecumenismo é possível ou uma utopia?

DARLI ALVES – O ecumenismo não só é possível, como ele existe na prática do cotidiano. O que ocorre é que, muitas vezes, várias iniciativas, encontros, congressos, eventos, projetos sociais, manifestações de incidência pública, são ecumênicos, mas por vários motivos as pessoas de igrejas cristãs não assumem o caráter ecumênico da ação. Essa é uma discussão longa e interessante porque, para certos setores do cristianismo, a palavra ecumênico ou ecumenismo são proibidas. Daí muitas iniciativas ecumênicas serem chamadas de interdenominacionais, intereclesiásticas, paraeclesiásticas ou não-denominacionais.

Por outro lado, há de se mencionar que há uma caminhada a percorrer para se atingir a plenitude do ecumenismo quanto à superação de certos entraves, entre eles, os existentes no âmbito cristão: as questões sobre batismo, eucaristia e ministérios. Nessa direção, o Conselho Mundial de Igrejas (CMI) publicou um interessante estudo (livro publicado pelo CONIC) com o mesmo nome – Batismo, Eucaristia e Ministérios (BEM). Esse estudo mostra os entraves, principalmente dentro do cristianismo, para a construção de uma unidade mais ampla.

Quanto ao diálogo inter-religioso que promova uma relação de direitos iguais entre as diferentes manifestações religiosas, também há muito que se caminhar. É necessário que muitos setores do cristianismo deixem de demonizar outras manifestações religiosas para a construção de uma cultura de respeito e paz entre as pessoas. Assim como os cristãos, as outras religiões devem possuir direitos e deveres como cidadãos que convivem em um mesmo mundo. Nós, cristãos, não devemos nem podemos achar que, porque somos cristãos, somos mais humanos do que outras pessoas que professam outra fé religiosa. Que somos mais dignos e que temos mais direitos que outras pessoas. Se essa mentalidade não se reverter, as conseqüências podem ser ainda mais graves do que já se presencia na atualidade.

Celso de Carvalho
REVISTA ENFOQUE GOSPEL - EDIÇÃO 77