domingo, 15 de agosto de 2010

Por que a teologia seria relevante?

Por que a teologia seria relevante? Esta parece ser uma questão, senão uma dúvida generalizada. J. P. Williams faz referência ao desabafo de um ministro desencantando com a teologia: “Eu amo as flores, mas detesto a botânica; Amo a religião, mas detesto a teologia”. Tal atitude parece, e às vezes com boas razões, difundida. Freqüentemente, a teologia tem se tornado um mero exercício acadêmico, alienada da realidade concreta, sem qualquer pertinência ou relevância para a vida diária das pessoas. Contudo, a resposta à teologia precária, não deve ser a eliminação do pensamento teológico, mas a substituição dessa por uma teologia que seja indispensável, fundamentada na revelação bíblica.

O termo “teologia” vem de dois vocábulos gregos: Theos, que significa “Deus”, e logos, traduzido por “palavra” ou “pensamento racional”. Se entendemos Deus como sendo a fonte e a base do próprio sentido final da vida, torna-se claro, que não se pode viver sem teologia. Não é possível viver sem teologia, precisamente porque não se pode eliminar as questões finais da existência, pretendendo que elas não existam ou que não sejam importantes. Se as ignorarmos, elas ressurgirão de muitas outras formas distorcidas. O problema do ateísmo não é apenas que Deus deixa de existir, mas que, em Seu lugar, tudo passa a ser aceito como deus!

Freqüentemente, ainda, ouvimos pessoas afirmarem que o que importa não é o que “cremos, mas o que fazemos.” Esta idéia parece razoável, contudo, devemos notar que no mínimo, ela esconde uma contradição. Claro que, do ponto de vista cristão, o pensamento teológico não é um fim em si mesmo (embora um bom número de teólogos parece crer e comunicar esta noção). A fé cristã é para ser vivida, para ser encarnada em ação. Afinal, este é o propósito da própria Bíblia, maior fonte de teologia: “Toda Escritura é inspirada por Deus (esta é teoria)...”, mas observe o propósito prático: “é útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2Tm 3:16,17). Se, ao contrário de sua fonte, a teologia permanece no reino das idéias, ela não passa de uma abstração fútil.

No entanto, e este é o elemento da contradição, independentemente do que o homem faça, ele depende daquilo que pensa ou mantém como valor final. Em outras palavras, em última análise não se pode fazer uma distinção simples entre “pensamento” e “ação”. Quando o assim chamado “homem prático” é desafiado a decidir sobre como agir, ele precisa ter uma idéia implícita acerca do resultado que deseja obter; e daquilo que deve ser ganho como solução. Isto é, ele tem uma forma de teoria, da qual depende o seu curso de ação. Além disto, ele deve ter ainda algum conceito sobre os melhores meios para alcançar tais resultados esperados. Tudo isto sugere o relacionamento íntimo entre o “que pensamos e como agimos”.

Assim, o clichê “o que importa não é o que se pensa, mas o que se faz,” embora bem intencionado, não passa num teste simples de lógica geral. Uma vez que ninguém age independentemente do que pensa, não se pode desconsiderar o valor daquilo que pensamos. Por muito tempo, comunistas e nazistas reconheceram que não existe distinção entre aquilo que uma pessoa “realmente” crê e aquilo que ela faz. Como resultado, eles utilizaram a propaganda calculadamente, na tentativa de mudar o que as pessoas pensavam sobre as questões finais da existência. Eles sabiam que se modificassem o pensamento acerca destas questões, poderiam manipular as ações dos homens (a propósito, as ações do próprio Hitler foram grandemente influenciadas pela filosofia de Nietzche).

A teologia cristã é, simplesmente, a tentativa de influenciar e transformar o pensamento das pessoas sobre as questões e valores finais da vida, a fim de que ao entenderem estes de um ponto de vista cristão, passem a agir como cristãos. E, porque vivemos em um tempo em que diferentes forças da cultura ao nosso redor buscam “vender” sua cosmovisão e convicções quanto ao significado da existência, a teologia nunca foi tão necessária! Teologia, como a tentativa de se articular e comunicar a idéia de Deus, envolve uma quantidade de temas correlatos, que em ultima análise tem um extraordinário impacto na vida prática dos cristãos.

Finalmente, ao contrário do que muitos possam concluir, teologia não é também uma disciplina estática. Os teólogos são forçados, continuamente, a relacionarem a fé cristã com um mundo em constante mudança. Tudo isto que foi dito, introduz a nova tentativa do Seminário Adventista Latino Americano de Teologia (Salt), em tornar o pensamento teológico bíblico, disponível. Assim, uma revista eletrônica vem suprir uma lacuna sentida, há um bom tempo. Devido à natureza mais ágil e acessível, ao disponibilizarmos Kerygma, julgamos que esta será uma outra avenida para colocarmos ao alcance de uma audiência ainda mais ampla, a produção teológica do Salt.

Esperamos que Kerygma represente para todos os que acessarem suas páginas, uma nova forma de entrarem em contato com o conhecimento teológico, e, através disto, sejam estimulados e desafiados a assumirem um compromisso concreto com a missão delegada por Cristo à Igreja.

Cordialmente,

Amin A. Rodor, Th.D.
Coordenador do curso de Teologia do Unasp