sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

O Conhecimento de Deus: Natural e Revelado (Alister McGrath)

O excelente texto de McGrath inicia o capítulo fazendo questionamentos sobre como podemos conhecer a Deus, quais as evidências no mundo natural e como Deus pode ser concebido.
O presente capítulo nos apresenta fundamentalmente o tema da revelação, seu conceito, suas formas de revelação, a perspectiva de autores clássicos tal como Tomás de Aquino, Calvino, a Tradição Reformada e conclui com algumas objeções teológicas e filosóficas com relação à Teologia Natural como forma de se conhecer a Deus, baseadas nos argumentos de Barth e Plantinga.
No presente resumo abordará sucintamente estes conceitos.
O conceito de revelação - É possível conhecermos a Deus? Há necessidade de dizermos como Deus é?
Estas são perguntas que para respondermos, devemos ter uma noção do que vem a ser revelação. O texto nos apresenta uma diferença básica entre “saber algo a respeito de alguém” e “conhecer alguém” pessoalmente. Existe um consenso entre os teólogos de que Deus pode ser revelado através da natureza (ou criação), a qual testemunha a respeito de Deus e através de Sua palavra, as Escrituras Sagradas.
De acordo com o autor, a idéia de revelação envolve a noção de relacionamento pessoal e não apenas um conhecimento intelectual. Em sentido amplo, de acordo com McGRath, o conceito de revelação não significa mera transmissão de um conjunto de conhecimentos, mas sim a manifestação pessoal de Deus na história. O clímax da revelação se dá com o nascimento, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Ele é a auto-revelação de Deus.
Formas de revelação - Como se dá a Revelação? Como Deus se auto-revela ao ser humano? De acordo com o autor existem diversas tentativas de se explicar como Deus se auto-revela ao ser humano.
De acordo com McGrath, Deus pode se revelar através da Doutrina, de sua Presença, através da Experiência com o ser humano, da História e através da Teologia Natural.
A doutrina como revelação - O Autor apresenta duas visões: uma católica e outra protestante da doutrina como revelação.
A visão católica afirma que Deus se revela através das Escrituras e da Tradição, tanto oral, quanto escrita, em particular na autoridade e no ensino da igreja (o magistérium), conhecimentos este acumulados pela igreja através dos anos.
Na visão protestante, Deus se revela através da Bíblia, com seus conjuntos doutrinários. Ele cita J.I. Packer como um dos defensores desta idéia. De acordo com Packer, os homens podem compreender o desenrolar da história da salvação através dos oráculos de Deus, baseados em Sua Palavra escrita.
McGrath apresenta em contraposição, a idéia de Barth, o qual afirma que a Bíblia não é revelação em si mesma, ela representa um testemunho da revelação. A sua ênfase recai sobre aquele de quem as Escritura dão testemunho, Jesus Cristo, e não o texto bíblico em si. Barth defendia uma relação pessoal com o autor a Bíblia e não somente uma relação intelectual.
De acordo com o autor, estas formas de revelação não precisam necessariamente ser excludentes, mas complementares entre si.
A Presença como Revelação - Os defensores desse modelo de revelação são principalmente os escritores da escola dialética, influenciados pelo personalismo dialógico de Martins Buber e Emil Brunner, os quais defendem a noção de revelação como comunicação pessoal de Deus, ou seja, a revelação da presença pessoal de Deus no interior daquele que crê. Eles afirma que há uma auto-revelação de Deus, Sua auto-manifestação própria ao ser humano. A Revelação é concebida um relacionamento que traz vida e transformação na vida do crente.
A Experiência como Revelação - Este modelo concentra-se em torno da experiência humana com Deus. Entende-se Deus como alguém que se revela ou dá a conhecer por intermédio a experiência pessoal. Teve como origem, o protestantismo liberal alemão do séc. XIX, tendo como expoentes e defensores Schleiermacher e Ritschl. Ambos dão uma ênfase especial a devoção pessoal a Jesus Cristo e à importância de uma consciência pessoal da conversão. Teve o metodismo como defensor desse modelo, o qual enfatizava a religião experimental, uma fé viva e o resultado desse modelo foi uma teologia profundamente baseada numa perspectiva romântica e uma ênfase na questão do papel da consciência e do sentimento religioso do indivíduo.
A História como Revelação - Este modelo tem como principal autor, Pannenberg, o qual se concentra no tema da “revelação como história”.
De acordo com este autor, a teologia cristã baseia-se na análise da história universal e conhecida, e não na subjetividade interna da existência humana pessoal ou em uma interpretação particular dessa história.
Apresenta sete teses dogmáticas sobre a doutrina da revelação, a qual defende que a revelação e essencialmente um evento histórico notório e universal, reconhecido e interpretado como “ato de Deus”.
A Teologia Natural: seus limites e seu alcance - A Teologia Natural possui crescente relevância, em razão do interesse na promoção de um diálogo entre a teologia cristã e as ciências naturais.
De acordo com as Escrituras Sagradas, Deus se revela através das obras de sua criação. Podemos constatar esse pensamento no livro de Salmos 19:1 “os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra de suas mãos”. Um dos defensores desse modelo foi Tomás de Aquino, teólogo e filósofo católico.
A perspectiva de Tomás de Aquino sobre a questão da Teologia Natural - Com a obra Summa contra gentiles, Tomás de Aquino apresenta a possibilidade de se entender a existência de uma relação entre Deus e a criação, o qual analisa em termos de causalidade e semelhança (similitude) com Deus, baseado no pensamento aristotélico, pois, de acordo com este pensador, Deus é a causa do mundo e de tudo o que nele foi criado.
De acordo com o pensamento de Aquino, se Deus criou o mundo, é possível, portanto, encontrar a sua “assinatura” em sua criação, manifestada através de seus atributos divinos, tais como, a perfeição e a beleza de Sua criação, pois, conforme o livro de Gênesis, tudo o que Deus criou era bom e perfeito. Podemos, assim, afirmar que a criação possui as digitais do Criador.
A perspectiva de Calvino sobre a questão da Teologia Natural - Calvino, reformador protestante, autor da obra as Institutas, em seu primeiro volume, indaga: como podemos saber algo sobre Deus?
Calvino afirma que é possível discernir um conhecimento geral de Deus por toda a criação, na humanidade, na natureza e no processo histórico em si.
Ele divide este sistema em subjetivo e objetivo.
Subjetivamente, o homem possui o “senso divino” (sensus divinitatis) ou uma “semente da religião (sêmen religious), onde Deus plantou em cada ser humano". É como se o conhecimento de Deus fosse inato ao ser humano.
Objetivamente, através da razão, qualquer pessoa pode, independente de ser cristã ou não, por intermédio de uma reflexão inteligente e racional acerca da criação, deve ser capaz de alcançar a noção de Deus.
Assim, Deus se revela ao ser humano, no plano subjetivo e objetivo. Deus age através da razão, baseado nas coisas visíveis de sua criação e também no plano subjetivo, através da consciência de Sua existência.
A perspectiva da tradição reformada sobre a questão da Teologia Natural - Nesta perspectiva, Deus se revela à humanidade de duas maneiras: primeiramente, através de suas obras, em sua criação, controle e conservação. E, em segundo, através de Sua Palavra, revelada pelos oráculos e registrada nos livros sagrados, chamados de Escrituras Sagradas.
Portanto, de acordo com o pensamento reformado, Deus se revela também por intermédio da natureza e por intermédio das Escrituras. A segunda forma é mais clara e mais completa do que a primeira.
Abordagens à percepção de Deus por intermédio da natureza - De acordo com esta abordagem, a doutrina da criação fornece a base teológica para a idéia de um conhecimento natural de Deus.
No entanto, surge uma pergunta: em que parte da criação podemos detectar a presença de Deus?
De acordo como autor, o homem pode detectar a presença de Deus na natureza por intermédio da razão humana, da ordem da natureza e através da beleza do mundo.
Objeções à Teologia Natural - Apesar de termos abordado estas importantes teorias, existem outras possibilidades de se conhecer Deus. Esta concepção encontra-se baseada na teoria dos pensadores Karl Barth e Plantinga, os quais criticam o modelo da Teologia Natural defendida pela maioria dos teólogos e filósofos.
Karl Barth: uma objeção teológica - Barth faz uma severa crítica à obra de Brunner, intitulada Natureza e Graça, a qual defendia o retorno da nova geração de teólogos a uma autêntica teologia natural.
Barth critica o fato de Brunner defender o ponto de vista de que a natureza humana necessita um “ponto de contato” que torna possível a revelação divina.
Para Barth, “O Espírito Santo... não necessita de outro ponto de contato, além daquele que esse mesmo Espírito estabelece”. Para ele, não havia qualquer “ponto de contato” que fosse inerente à natureza humana.
Alvin Plantinga: uma objeção filosófica - Surgiram outras objeções por parte do protestantismo, em contraposição a idéia de uma “teologia natural”, através de um filósofo da religião chamado Alvin Plantinga, ligado à tradição reformada.
Alvin Plantinga e Nicholas Wolterstorff enxergam a teologia natural como tentativa de se provar ou demonstrar a existência de Deus.
Tais objeções podem ser sintetizadas através de duas considerações:
1) que a teologia natural parte do pressuposto de que a fé em Deus deva se basear em evidências. De acordo com estes pensadores, a fé não seria uma crença básica, evidente e inerente, sendo que deveria ser captada pelos sentidos. No entanto, de acordo com Plantinga, uma abordagem cristã adequada declara que a fé em Deus é básica em si mesma, não necessitando ser justificada por outras crenças.
2) Que a teologia natural não é justificada, no que diz respeito à tradição reformada, inclusive para Calvino e seus adeptos posteriores.

Considerações Finais - Entretanto, de acordo com o pensamento de McGrath, a teologia natural não pretende provar a existência de Deus, mas pressupor essa existência; ela, portanto, pergunta: “Como seria o mundo natural se tivesse realmente sido criado por esse Deus”? Sabemos que a criação revela o seu autor. Toda a criação revela as digitais do Criador.
Diante o exposto acima, pudemos verificar a existência de várias teorias sobre o conhecimento de Deus e sua revelação a nós, seja através da teologia natural ou das várias formas de revelação.
Aprendemos que Deus pode se revelar ao ser humano de várias formas, seja através de Sua Palavra, da Natureza, da Doutrina, de Sua presença, da Experiência e da História.
Creio que para nós, não importa tanto a forma como Deus se revela, mas sim, que temos a certeza de que ele realmente se revela a cada de um de nós e, por isso, somos indesculpáveis.
Deus se auto-revelou para nós através de Seu Filho Encarnado, o Nosso Salvador e Senhor Jesus Cristo, o qual nasceu, viveu entre nós, morreu e ressuscitou para nos resgatar do pecado e nos conduzir à vida eterna.

2 comentários:

thiago Grizoti disse...

palavras dificeis ... diploma e diploma e diploma e teologia e teologia ... palavras e palavras e palavras

Unknown disse...

Discordo comentário acima. Bem escrito e bem colocado