sábado, 6 de setembro de 2008

A filosofia Adventista da Educação


A FILOSOFIA ADVENTISTA DA EDUCAÇÃO

A Educação Adventista considera a Bíblia como a fonte ao auto revelação de Deus e aceita como fundamentos básicos da visão bíblica cristã os seguintes aspectos:• a existência de um Deus Criador; a criação do Universo perfeito e do ser humano à imagem de Deus com livre-arbítrio;• o surgimento do pecado a partir da rebelião de Lúcifer; a queda do ser humano em pecado e a perda parcial da imagem de Deus;• a inabilidade do ser humano de restaurar a própria natureza sem o auxilio divino;• a iniciativa de Deus para a restauração do ser humano através do nascimento, vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo; • a ação do Espírito Santo no plano da restauração da imagem de Deus na humanidade; • o retorno de Cristo para pôr fim à história terrestre em sua fase de pecado; a restauração do mundo e dos seres humanos à sua condição original.Mediante tal fundamento bíblico-cristão, a Educação Adventista também se coloca diante das grandes questões filosóficas no tocante aos aspectos antropológicos, epistemológicos e, conseqüentemente, educacionais da existência humana.

NATUREZA HUMANA


Na Educação Adventista, o ser humano não deve ser visto a partir de uma perspectiva evolucionista, mas sim pela ótica criacionista.
OrigemO essencial a respeito da natureza humana numa perspectiva bíblica, é que “Deus criou o homem à Sua imagem”, com o direito de fazer escolhas (Gên. 1 :27). Assim o ser humano não é um animal altamente desenvolvido, mas um indivíduo que compartilha da natureza e caráter divinos; um ser que deve ser entendido sob o ponto de vista de Deus, e não apenas pelas suas faculdades físicas e racionais.
“Quando Adão saiu das mãos do Criador, trazia ele em sua natureza física, intelectual e espiritual, a semelhança de seu Criador. (...) Todas as suas faculdades eram passíveis de desenvolvimento; sua capacidade e vigor deveriam aumentar continuamente” (White, 1996ª:15).
QuedaCom a entrada do pecado a natureza humana foi modificada. A humanidade rejeitou a Deus escolhendo seu próprio cami;nho. Assim, a imagem divina, atribuída aos seres humanos na criação, foi corrompida em todos os seus aspectos, e sua nature;za se tornou pecaminosa. Desde então as pessoas começaram a enfrentar um grande conflito interno e externo, entre as forças do bem e do mal, entre o desejo de fazer o bem (bondade) e a inclinação para o mal (maldade).
Com o pecado a semelhança divina se deslustrou, obliterando-se quase. Enfraqueceu a capacidade física de homem e sua capacidade mental diminuiu; ofuscou-se-lhe a visão espiritual. (...)Pela transgressão, o homem ficou privado de aprender de Deus, mediante a comunhão direta, e, em grande parte, mediante as Suas obras. Com faculdades enfraquecidas e a visão restrita, tornou-se incapaz de interpretar corretamente. Por misturar o mal com o bem, sua mente se tornou confusa e entorpecidas suas faculdades mentais e espirituais (White, 1996ª:15,17).
DestinoA humanidade, entretanto, não foi deixada sem esperança. Deus em Seu infinito amor e misericórdia, tomou a iniciativa para renovar e restaurar Sua imagem nos seres humanos. Foi concebido o plano da salvação, através do sacrifício de Jesus Cristo.
Restaurar no homem a imagem de seu Autor, levá-lo de novo à perfeição em que fora criado, promover o desenvolvimento do corpo, espírito e alma para que se pudesse realizar o propósito divino da sua criação – tal deveria ser a obra da redenção. Este é o objetivo da educação, o grande objetivo da vida (White, 1996ª:15-16).


EPISTEMOLOGIA CRISTÃ


A epistemologia se refere ao modo como uma pessoa adquire conhecimento. Esta é uma das questões fundamentais da existência humana. Para a Educação Adventista, o conhecimento verdadeiro tem sua origem na fonte de toda sabedoria — Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo - e na revelação feita através de Jesus Cristo, das Sagradas Escrituras, da natureza e da iniciativa divina de colocar no ser humano uma abertura para o transcendente que lhe permite ouvir o chamado de Deus. Para conhecer a Deus é necessário ter comunhão com Deus. Nessa comunhão, o agente que opera na mente humana é o Espírito Santo, pois exerce impressões que contribuem no processo de aquisição do conhecimento e de transformação do caráter.A Bíblia é a maior fonte de conhecimento e, portanto, a base de autoridade epistemológica. Todas as outras fontes de saber de;vem estar relacionadas às Escrituras Sagradas, que provêem à inte;gração necessária do currículo numa perspectiva cristã.A Bíblia deve ser o grande educador em cada sala de aula, pois é impossível estudar suas páginas sem ter o intelecto disciplinado, enobrecido, purificado e refinado. A Palavra de Deus deve ocupar o lugar do mais alto livro educativo e deve ser tratada com reverência.Outra fonte de conhecimento de muita importância para a Educa;ção Adventista é a natureza, com a qual o ser humano entra em conta;to através da vida cotidiana e do estudo científico. Foi em relação dire;ta com a natureza e todas as obras criadas que Jesus se desenvolveu.
Aquele que fizera todas as coisas estudou as lições que Sua pró;pria mão escrevera na terra, no mar e no céu. [...] Adquiriu da natureza acumulados conhecimentos científicos. Estudava a vida das plantas e dos animais bem como a dos homens. [...] Encontrava recursos na natureza; novas idéias de meios e modos brotavam-lhe da mente, ao estudar a vida das plantas e animas. (...) Assim se revelava a Jesus o significado da Palavra e das obras de Deus, ao buscar compreender a razão das coisas (Whi;te, 2000b: 50, 51)
Segundo Knight (2001: 18]), “o estudo da natureza certamen;te enriquece o entendimento humano de seu ambiente. Também for;nece respostas para algumas das muitas questões que não são tra;tadas na Bíblia”. Entretanto, é preciso lembrar que existem proble;mas na interpretação do mundo natural, porque toda a criação foi afetada pela queda e entrou em degeneração. Por isso, as desco;bertas científicas advindas ao Livro da natureza devem ser interpretadas à luz da revelação bíblica.A racionalidade humana também constitui uma fonte epistemológica. A humanidade, que foi criada à imagem de Deus, é racional em sua essência. Os seres humanos foram feitos para pensar de forma abstrata e reflexiva, raciocinando da causa para o efeito. Assim, a razão humana é um aspecto essencial no tocante ao ato de conhecer. Ajuda a compreender a verdade e a expandir o conhecimento. Entretanto, não é o elemento epistemológico básico. As descobertas da razão também devem ser verificadas e aplicadas conforme as escrituras.
Na epistemologia cristã, é preciso ter clareza de que a Bíblia é a base do entendimento nos diversos campos de estudo e que estes em contrapartida, iluminam o sentido das Escrituras. Deus Se apresentou através da Bíblia e da natureza, e podemos conhecer os diferentes aspectos da vida através da razão, que Ele concedeu aos seres humanos. Nesse sentido, o conhecimento se dá através das relações interacionais, ou seja, pela relação da pessoa com o seu semelhante, com a natureza, com a sua maneira de pensar e, principalmente, com Deus.Por isso, a produção do conhecimento secular deve estar anco;rada no conhecimento verdadeiro. Todos os que exercem a função de mediadores entre o educando e o objeto do conhecimento pre;cisam valorizar as interações sociais, pois aguçam as capacidades mentais e oportunizam a reflexão pessoal.


A EDUCAÇÃO ADVENTISTA


A educação cristã, na concepção Adventista, é vista como uma atividade redentora. O educando é considerado num todo, pois a pessoa inteira é importante para Deus. Por isso, o objetivo da Edu;cação Adventista é a restauração no ser humano, à imagem de Deus, em seus aspectos físicos, intelectuais sociais e espirituais.
Alunos na perspectiva cristã devem ser vistos como crianças de Deus. Cada uma é um receptáculo da imagem de Deus e alguém por quem Cristo morreu. Cada um portanto tem possibilidades infinitas e eternas, o valor de cada aluno individualmente só pode ser compreendido nos termos do preço pago por sua restauração na cruz do calvário (Knight 2001: 209).
Nesse contexto, o educador cristão não deve ser apenas um expositor da verdade, mas uma pessoa especial que tem grande cuida;do pelos educandos sob sua responsabilidade. Alguém que reconhece, respeita a individualidade e valoriza o potencial de cada educando. Deve ser aquele que não só detém o conhecimento acumulado historicamente pela humanidade, mas que sabe estar por detrás deste agente mais que humano. Deve conhecer a Deus por experiên;cia própria e ter consciência de que o conhecimento humano não é algo acabado e que nossa mente é finita. Em seu fazer pedagógico cria condições para que o educando se aproprie do conhecimento que faz parte do patrimônio cultural da humanidade de forma socializada e contextualizada ao conhecimento verdadeiro.O currículo enfatiza uma integração equilibrada entre os aspec;tos espirituais, mentais, físicos e sociais a fim de contribuir para a restauração da imagem e semelhança de Deus no ser humano. Precisa desenvolver a pessoa por completo. Nesse currículo a Bíblia é o documento fundamental e contextual. Segundo Knight (2001: 239), “devemos reconhecer que não há nada neutro em nosso programa de atividades. Todas as nossas atividades são refreadoras e restauradoras ou diversivas e destrutivas. A Bíblia é um critério primário para nos ajudar a tomar decisões em todos os aspectos da educação cristã (...), é o foco de integração para todo o conhecimento, pois fornece uma perspectiva unificadora que vem de Deus, a origem de toda verdade”.A metodologia, por sua vez, prioriza a parceria do divino com o humano através de práticas que despertem o desejo de aprender, estimulando o espírito de investigação e relacionando a teoria com a prática na construção do conhecimento.A avaliação, na perspectiva cristã, é a intervenção positiva no processo pedagógico, sustentada pela reflexão sobre a prática. Tal reflexão ocorre quando educador e educando conhecem os acertos e erros, encontros e desencontros ocorridos na prática educativa, com o objetivo de retomar o rumo para alcançar os objetivos propostos. Ressaltam-se, portanto, as relações interacionais (homem - Deus - comunidade - natureza). Só assim o educando reco;nhecerá os elementos que o distinguem como ser humano, projetado por Deus para uma interação com seus semelhantes.Deus olha o interior da pequenina semente que Ele próprio criou, e nela vê encoberta a bela flor, o arbusto ou a grande e frondo;sa árvore. Assim vê Ele as possibilidades em toda a criatura hu;mana. Achamo-nos aqui para determinado fim. Deus nos deu o plano que tem para a nossa vida, e deseja que alcancemos a mais alta norma de desenvolvimento (White 1997a: 397).


FINS E PRINCÍPIOS NORTEADORES


MISSÃO


Promover, através da educação cristã, o desenvolvimento harmônico dos educandos, nos aspectos físicos, intelectuais, sociais e espirituais, formando cidadãos pensantes e úteis à comunidade, à pátria e a Deus.


VISÃO


Ser um sistema educacional reconhecido pela excelência, fundamentado em princípios ético-cristãos, com ampla participação no setor educacional.
OBJETIVOS DA EDUCAÇÃO ADVENTISTAA Educação Adventista compreende o processo educativo para além de um certo curso de estudos. “Significa mais do que a prepa;ração para a vida presente. Visa o ser todo, e todo o período da exis;tência possível do homem. É o desenvolvimento harmônico das facul;dades físicas, mentais e espirituais. Prepara o estudante para o gozo ao serviço neste mundo e para aquela alegria mais elevada por um mais dilatado serviço no mundo vindouro” (White, 1996a:13).Partindo do pressuposto de que o ser humano necessita ser restaurado a seu estado original de perfeição, a Educação Adven;tista se propõe a alcançar os seguintes objetivos:
a) Promover o reconhecimento de Deus como fonte de toda sabedoria. “Todo saber o desenvolvimento real têm sua fonte no conhecimento de Deus” (White, 1996a: 14).b) Reconhecer e aplicar a Bíblia como referencial de conduta. “O ensino da Bíblia deve ter os nossos mais espontâneos pensamentos, nossos melhores métodos, e o nosso mais fervoroso esforço” (White, 1996a:186).c) Estimular o estudo, a proteção e a conservação da natureza criada por Deus. “ O livro da natureza é um grande compêndio que devemos usar em conexão com as Sagradas Escrituras para ensinar a outros sobre Seu caráter e reconduzir ovelhas ao redil de Deus. (...) Em si mesmo o encanto da natureza desvia a alma, do pecado e das atrações mundanas, para a pureza, para a paz e para Deus (White, 1997c: 24).d) Incentivar a utilização das faculdades mentais na aquisição e construção do conhecimento em favor do bem comum, tendo como ferramenta as diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos. “O intelecto humano precisa expandir-se, e adquirir vigor, agude;za e atividade. (...) A mente deve idear, trabalhar e esforçar-se a fim de dar solidez e vigor ao intelecto” (White, 1996b: 226). “A mente humana quer ter ação. Se não estiver ativa, na reta di;reção, será ativa no erro” (White, 1989:1:51).e) Promover a aquisição de hábitos saudáveis através do conheci;mento do corpo e das leis que o regem. “As leis que governam nosso organismo físico, Deus as escreveu so;bre cada nervo, músculo ou fibra do corpo. Cada violação des;cuidada ou negligente destas leis constitui um pecado contra o nosso Criador (...) Um conhecimento da fisiologia e higiene deve ser a base de todo esforço educativo (White, 1996a: 196, 197). Os que estão recebendo o preparo para o serviço, sofrem gran;de perda quando não adquirem conhecimento de como prepa;rar o alimento de maneira que seja ao mesmo tempo saudável e saboroso (White, 2000a. 312).f) Oportunizar o desenvolvimento do senso crítico, da criatividade da pesquisa e do pensamento reflexivo. “As verdades da divina Palavra podem ser melhor aprendidas pelo cristão intelectual. Cristo pode ser glorificado melhor por aqueles que O servem com inteligência” (White, 2000a: 361).g) Incentivar o desenvolvimento dos deveres práticos da vida diária, a sábia escolha profissional, a formação familiar, o serviço a Deus e à comunidade. “Os estudantes devem, enquanto na escola, ser despertados de suas sensibilidades morais no que respeita a ver e sentir os direitos que a sociedade tem sobre eles, e que devem viver em obediência às leis naturais, de modo a poderem, por sua vida e influência, por preceito e exemplo, ser para essa sociedade proveito e bênção (White, 2000a: 84).O trabalho manual útil faz parte do plano evangélico. (...) Cada um deve adquirir conhecimentos em algum ramo de trabalho manual que, em caso de necessidade, lhe possa proporcionar um meio de vida. Isso é essencial, não somente como salvaguarda contra as vicissitudes da vida, mas em virtude de seu efeito sobre o desenvolvimento físico, mental e moral (White, 2000a: 307).h) Promover a autonomia e a autenticidade ancorados nos valores bíblico-cristãos. Ao sacrificar o estudante a faculdade de raciocinar e julgar por si mesmo, torna-se incapaz de discernir entre a verdade e o erro e cai fácil presa do engano. É facilmente levado a seguir a tradição e o costume” (White,1996a:230).i) Favorecer o desenvolvimento da auto-estima positiva, do sentimento de aceitação e de segurança. “Tanto quanto possível, deve cada criança ser ensinada a ter con;fiança em si mesma. Pondo em exercício as várias faculdades, aprenderá onde é mais forte e em que é deficiente. O instrutor sábio dará especial atenção ao desenvolvimento dos traços mais fracos, para que a criança possa formar um caráter bem equili;brado e harmonioso (White, 1996b: 57).j) Resgatar a prática da regra áurea nos relacionamentos interpes;soais, que é amar ao próximo como a si mesmo. “Toda criança deve ser ensinada a ser delicada, compassiva, amável, piedosa, cortês e de coração terno” (White 2000b: 143). A cooperação deve ser o espírito da sala de aulas, a lei de sua vida. [...] Isto fomentará o respeito próprio e o desejo de ser útil. Valioso seria aos jovens, aos pais, aos professores, estudarem as lições de cooperação que encontramos nas Escrituras (White, 1996: 285, 286)

PEDAGOGIA ADVENTISTA

METODOLOGIA

A metodologia de ensino e aprendizagem da Educação Adventista pauta-se pelas concepções filosóficas e pelos objetivos a que se propõe, conforme o pensamento hebraico-oriental e o modelo de Jesus, o Mestre por excelência.
Isso não significa que o educador terá um modelo de ensino, pois cada um possui habilidades próprias e para cada realidade educacional existem praticas diversas, costumes e idéias produzidos socialmente. Como afirma Durkheim (1978: 39), “não há povo em que não exista certo número de idéias, sentidos e praticas que a educação deve inculcar a todas as crianças indistintamente, seja qual for a categoria social a que pertençam”. Entretanto, existe uma base metodológica comum que sustenta e promove a unicidade e identidade da instituição educacional.
Nessa perspectiva, toda prática pedagógica deve estar amparada por princípios que a norteiem. Desse modo, o educador que apreende os princípios tem a possibilidade de os transferir para outras situações no cotidiano.

Princípios Metodológicos

Os seguintes princípios metodológicos servem como base comum para as praticas curriculares nas unidades escolares adventistas:

a) Integração fé e ensino


Ao integrar fé e ensino, educador e educando são levados a refletir sobre todos os aspectos da realidade, numa perspectiva cristocêntrica. A integração fé e ensino não pode ser fruto do acaso; ao contrario, deve ser um processo intencional sistemático. Todas as atividades educativas deveriam partir de uma perspectiva bíblico-cristã. O objetivo é levar os alunos a internalizar voluntariamente uma visão da vida orientada para o serviço, motivada pelo amor e voltada para o reino eterno de Deus.
Para isso, é preciso que o educador adventista se consagre diariamente a Deus e esteja consciente da missão delineada na cosmovisão bíblico-adventista.

b) Estimulo ao espírito de investigação, reflexão e criatividade


O educando possui naturalmente um espírito inquiridor a respeito da vida e do funcionamento do mundo. Cabe ao educador estimulá-lo e orientá-lo a procurar respostas para suas indagações, através de instrumentos como a pesquisa, e despertar o espírito investigativo através de reflexões a respeito das diversas situações da vida humana.
A palavra “pesquisa” aqui deve ser entendida como um instrumento que propicia a construção do conhecimento e não como uma mera consulta de dados prontos e acabados. O educador deve primar por uma investigação que estimule o raciocínio, a reflexão e a criatividade. Assim, não colocará a mente do educando sobre seu controle, mas contribuirá para o desenvolvimento da autonomia intelectual.

Os professores devem induzir os alunos a pensar, e a entender claramente a verdade por si mesmos. Não basta ao professor explicar, ou ao aluno crer; cumpre despertar o espírito de investigação, e o aluno ser atraído a enunciar a verdade em sua própria linguagem, tornando assim evidente que lhe vê a força e faz a aplicação (White, 1994: 140).

c) Conhecimento da realidade do educando como ponto de partida


É imprescindível que o educador conheça a realidade do educando, no seu contexto social, e como se processa o seu desenvolvimento físico, emocional e intelectual. Ao introduzir qualquer tema ou assunto, precisa obter informações relevantes ao contexto do educando, propondo situações, problemas e desafios que permitam a elaboração de hipóteses, a realização de experimentos e a construção de analogias, relacionando as partes ao todo. Tal postura contribuirá para o ânimo do educando em sua trajetória estudantil e para a elaboração e compreensão de questões mais amplas.

Em seus ensinos, tirava Cristo ilustrações do grande tesouro dos laços e afeições de família, bem como da natureza. O desconhecido era ilustrado pelo conhecido; sagradas e divinas verdades, pelas coisas naturais e terrestres, com as quais o povo se achava mais familiarizado (White, 2000a: 178).

d) Relação teoria-prática


Teoria e prática não são, na concepção adventista, duas fases, mas elementos de um círculo harmonioso. Aprende-se fazendo, faz-se aprendendo.
O educador precisa ter em mente a importância da aplicabilidade dos temas estudados em sala de aula. O conhecimento teórico sem o conhecimento prático quase nada contribui para o sucesso do educando.
O trabalho prático desperta observação minuciosa e pensamento independente. Não é produtivo se deter no ensino de conceitos quando estes estão ligados às questões cotidianas, como se comunicar com fluência, ler e escrever com clareza e coesão, saber preparar alimentos saudáveis, fazer com precisão as contas dos próprios gastos.

[Quando esteve na Terra,] Jesus não tratou de teorias abstratas, mas daquilo que é essencial ao desenvolvimento do caráter, que ampliará a capacidade humana quanto ao conhecimento de Deus, e lhe aumentará o poder de fazer o bem (White, 2000a: 34-35).

e) Interação afetiva


A relação afetiva é um dos aspectos educativos de vital importância. Pela conquista do coração se obtêm a amizade e se contribui para uma auto-estima positiva, essencial ao crescimento da personalidade. Desenvolve-se, assim, o sentimento de aceitação, segurança e inter-relacionamento com os semelhantes.

Os professores muitas vezes deixam de entrar suficientemente em relação social com seus alunos. Manifestam pouca simpatia e ternura, e demasiada dignidade de um juiz austero. Conquanto o professor tenha de ser firme e decidido, não deve ser opressor e ditatorial. Ser áspero e severo, ficar longe de seus discípulos, ou tratá-los indiferentemente, corresponde a fechar a passagem pela qual poderia influir neles para o bem (White, 1996a: 280).

f) Ensino de valores


Segundo Knight (2001: 240, 241), toda experiência educacional é repleta de valores. A axiologia deve permear o currículo escolar e influenciar um viver coerente com os princípios básicos da ética crista e da valorização do educando como individuo e como membro de uma comunidade, com responsabilidades e direitos em relação ao meio ambiente, à vida e à família.

A verdadeira educação não desconhece o valor do conhecimento cientifico ou aquisições literárias, mas acima da instituição aprecia a capacidade, acima da capacidade a bondade, e acima das aquisições intelectuais o caráter. O mundo não necessita tanto de homens de grande intelecto, como de nobre caráter. Necessita de homens cuja habilidade seja dirigida por princípios firmes (White, 1996a: 225).

g) Respeito à unicidade do educando


O educador cristão deve reconhecer e respeitar a individualidade, unicidade e valor em cada pessoa. Em seu relacionamento com os discípulos e com a população em geral, Jesus respeitava a individualidade e valorizava as pessoas.
O respeito à individualidade não deve negar a importância do grupo. Paulo, escrevendo aos coríntios a respeito dos dons espirituais, ressaltou o valor do todo social assim como o valor único de cada pessoa (I Cor. 12: 12-31). O corpo (grupo social) tem saúde quando a unicidade dos membros é respeitada. A sala de aula não deve ressaltar o individualismo, mas o respeito pela individualidade e pelo grupo.

Em todo verdadeiro ensino o elemento pessoal é essencial. Cristo, em Seu ensino, tratava com os homens individualmente. Foi pelo trato e convívio pessoal que Ele preparou os doze [discípulos]. Era em particular, e muitas vezes a um único ouvinte, que dava Suas preciosas instruções. [...] O mesmo interesse pessoal, a mesma atenção para com o desenvolvimento individual são necessárias na obra educativa hoje. Muitos jovens que aparentemente nada prometem, são ricamente dotados de talentos que não aplicam a uso algum. [...] O verdadeiro educador, conservando em vista aquilo que seus discípulos podem tornar-se, reconhecerá o valor do material com que trabalha. Terá um interesse pessoal em cada um de seus alunos, e procurará desenvolver todas as suas faculdades. Por mais imperfeitos que sejam eles, acoroçoará [ou incentivará] todo o esforço por conformar-se com os princípios retos (White, 1996a: 231-232).

h) Espírito cooperativo


A Bíblia reforça a importância da convivência social. Portanto, o espaço escolar deve proporcionar relações de cooperação com excelente oportunidade para o desenvolvimento continuo do conhecimento e da formação do caráter. Trabalhos em grupo, envolvimento em projetos de auxilio à comunidade e participação ativa dos educandos no apoio aos seus pares são algumas das alternativas aplicáveis a este principio.

A cooperação deve ser o principio da sala de aluas, a lei de sua vida. O professor que adquire a cooperação de seus discípulos consegue um auxilio inapreciável [ou imprescindível] na manutenção da ordem (White, 1996a: 285).

i) Interdisciplinaridade


A inter-relação entre os conteúdos nas diferentes disciplinas contitui-se o foco da interdisciplinaridade. Não podemos conceber um modelo educativo que fragmente a relação que a própria vida faz de seus conteúdos no dia-a-dia. A educação adventista oferece uma relação epistemológica entre as disciplinas para que os diversos saberes se construam de maneira harmônica.

Não é bom sobrecarregar a mente de estudos que exigem intensa aplicação, mas que não são introduzidos na vida prática. Tal educação será prejudicial ao estudante. Pois esses estudos diminuem o desejo e a inclinação para aqueles outros que o habilitariam a ser útil, e o tornariam capaz de se desempenhar de suas responsabilidades. Um preparo prático é muito mais valioso de que qualquer soma de teoria. Não é mesmo suficiente possuir conhecimento. Precisamos ter habilidade para os empregar devidamente (White, 2000a: 387).

j) Preparo para servir


O serviço é um elemento essencial através do qual “Deus busca curar a alienação entre as pessoas, que se desenvolveu em conseqüência da queda” (Knight, 2002:214). Nessa perspectiva, um dos objetivos primordiais da Educação Adventista é o serviço a outros, não entendido como subserviência nem como humanitarismo altruísta, mas como essência do amor cristão e caráter semelhante ao de Cristo (Knight, 2002: 216). Tal educação se propõe a oportunizar situações para que os educandos sirvam aos semelhantes em suas respectivas comunidades.

Cristo ligou os homens ao Seu coração pelos laços da dedicação e do amor; e pelos mesmos laços ligou-os a seus semelhantes. Para Ele o amor era a vida, e a vida era o serviço em prol de outrem (White, 1996a: 80).

Orientações Didático-metodológicas

O trabalho pedagógico deve abranger atividades diversificadas envolvendo todas as áreas do currículo, conforme os objetivos apresentados anteriormente. As atividades escolhidas, sejam individuais ou coletivas, precisam estar em consonância com os princípios metodológicos elencados e com o projeto educacional de cada Unidade Escolar.
Os coordenadores pedagógicos e docentes deverão analisar orientações aqui colocadas como possibilidades concretas e desejáveis à prática curricular no contexto da Educação Adventista, tendo em vista que “é preciso agir com critérios definidos e com prudência. Não basta relacionar qualquer coisa num planejamento. Há necessidade de estudar que procedimentos e que atividades possibilitarão, da melhor forma, que nossos alunos atinjam o objetivo de aprender o melhor possível daquilo que estamos pretendendo ensinar” (Luckesi, 1993: 105).

Os professores podem aprender uma lição do incidente do fazendeiro que pôs a comida das ovelhas em uma manjedoura tão alto que as menores do rebanho não a podiam alcançar. Alguns mestres apresentam a verdade aos alunos de maneira semelhante. Põem tão alto a manjedoura, que aqueles a quem ensinam não podem alcançar o alimento. Esquecem-se de que os alunos possuem apenas uma parte da oportunidade que eles têm tido para obter o conhecimento de Deus (White, 2000a: 435).

Partindo dessas considerações, o espaço da sala de aula deve ser organizado de maneira que possibilite ao educando se locomover livremente, considerando seus interesses e necessidades, proporcionando o desenvolvimento da linguagem oral, da socialização e do espírito de cooperação.
É importante que o educador perceba que o pátio da escola, a biblioteca, o auditório e a sala de artes, entre outros lugares, também são espaços educativos para explorar o lúdico, a historia de vida, os saberes do mundo contemporâneo, a criatividade, a leitura, a escrita. Em todos esses espaços, o educador pode utilizar inúmeras ilustrações, objetos e figuras que estejam direta ou indiretamente relacionados ao tema de estudo. Ao fazer uso de tais recursos, desperta a atenção e a curiosidade de seus educandos, proporcionando o seu envolvimento com a temática a ser trabalhada.

Mediante o uso de figuras e símbolos, as lições dadas eram assim ilustradas e gravadas mais firmemente na memória. Por meio desse conjunto de imagens animadas, a criança era iniciada, quase desde a infância, nos mistérios, na sabedoria e nas esperanças dos pais e guiadas num modo de pensar, sentir e prever que alcançava muito mais além do visível e transitório; até o invisível e eterno (White, 2000b: 19).

No contexto da sala de aulas, o educador precisa ser surpreendente como Jesus era. Os discípulos e a multidão jamais sabiam o que ia acontecer no decorrer de Seus ensinamentos. Dessa forma, o Mestre impressionava a mente de Seus discípulos fazendo-os gravar na memória o que era realmente importante.
A vida tem uma relação fundamental com a memória. Uma não faz sentido sem a outra. Quando esta é construída com significado, a aprendizagem é arquivada, por assim dizer, nos espaços intrincados e fascinantes do cérebro humano.

Embora a memória possa ser deficiente a principio, há de crescer em força mediante exercício, de maneira que, depois de algum tempo, vos será um prazer entesourar as preciosas palavras da verdade. E o habito prover-se-á um valioso auxilio ao crescimento religioso (White, 1999a: 42).

O educador precisa conhecer o funcionamento da memória e os motivos que tornam uma informação mais interessante que a outra. O educando estabelece prioridades e preferências de acordo com o que lhe é próprio ou familiar. Por isso, os procedimentos e os recursos de ensino devem ser os mais variados, de forma que estimulem todos os sentidos.

Nosso Salvador ligava Suas preciosas lições às coisas da natureza. As arvores, os pássaros, as flores dos vales, as colinas, os lagos, o belo firmamento, assim como incidentes e o ambiente da vida diária, tudo ligava-o Ele às palavras da verdade, para que Suas lições fossem muitas vezes trazidas à memória, mesmo em meio dos absorventes cuidados da trabalhosa vida humana (White, 1990: 85).

O uso de tecnologias como recurso educacional deve ir além do ensino instrumental. A pratica educativa que valorizará o ser humano não depende do fato de usarmos uma caneta ou um computador, mas dos significados que estamos produzindo nessa interação social.
É necessária clareza nas concepções de ensino e aprendizagem que estão por trás do uso dos recursos tecnológicos. Caso contrario, teremos ainda cartilhas eletrônicas revestidas de modernidade com concepções arraigadas em pedagogias tradicionais.
O livro didático também é um importante aliado do docente na apresentação dos conteúdos em sala de aula. Baseado nesse entendimento, na escolha e utilização do livro e de todo e qualquer outro material didático e paradidático, deve-se considerar a concepção filosófica apresentada e certificar se é coerente com as concepções filosóficas da Educação Adventista. Pois o pensamento do autor e suas crenças ali expostas a partir da seleção de textos, da proposição de atividades e mesmo da indicação de leituras, filmes e sites.
A ordem de utilização dos livros não deve ser determinada pelo autor, e sim pela Unidade Escolar, através do planejamento curricular e do momento. Há bastante tempo não caba ao docente planejar as aulas seguindo o sumario do livro, limitando o conteúdo da aula ao que está prescrito por determinado autor.
Cabe lembrar que nenhum livro didático contém todo o desenvolvimento necessário ao desenvolvimento do estudante. Dessa maneira, é preciso que educando e educador invistam tempo na consulta de diversas fontes de informação, tais como livros, revistas, jornais, enciclopédias, sites e filmes.
Se por um lado o livro não contém todo o conhecimento necessário, nem toda a verdade sobre determinada temática, por outro a sua não utilização é o oposto radical, tendo em vista que para muitas famílias o livro é a principal fonte de pesquisa e sistematização didática. Através dele, o educando pode se reporta quantas vezes quiser e necessitar ao conteúdo tratado em sala.
Livro didático não deve limitar a ação pedagógica, mas ser instrumento de apoio ao educando e ao educador. O seu uso possibilita abrir espaço para discussões relevantes que levem o educando a perceber o entorno social com visão critico-cristã e construir valores e princípios.

O Senhor espera que nossos professores excluam de nossas escolas livros que ensinam conceitos que não estão de acordo com Sua Palavra, e dêem lugar aos livros do mais alto valor. É o desígnio do Senhor que os professores das nossas escolas sobrepujem em sabedoria a sabedoria do mundo, porque estudam a Sua sabedoria. Deus será honrado quando os professores das nossas escolas, desde os cursos superiores até os mais baixos, revelarem que possuem mais do que simples sabedoria humana, pelo fato de estar à frente o Mestre por excelência (White, 1996b: 517).

A utilização dos recursos apresentados não substitui a explanação e a argumentação em sala de aula. Ao contrário, essas abordagens caminham juntas, são interdependentes, adquirindo um novo sentido. Não se trata daquela aula expositiva em que o educador fala e o educando ouve, mas de uma integração dialógica. Envolve reflexão e posicionamento crítico, impulsionando o educando para a solução de uma situação-problema, impelindo-o a uma investigação metodológica. Enquanto o educando investiga em busca de respostas, o educador age como mediador, ao confirmar ou refutar suas hipóteses, e ambas aprendem.
As possibilidades didático-metodológicas apresentadas até então podem estar associadas ao trabalho através de projetos. Na perspectiva de Hernandéz (1998: 26-31), os projetos são considerados “uma concepção de ensino, uma maneira de suscitar a compreensão dos educandos sobre os conhecimentos que circulam fora da Escola e de ajudá-los a construir sua própria identidade.”
Bomtempo (1997: 6-11) afirma que trabalhar através de projetos é antes de tudo adotar uma atitude intencional, um plano de trabalho, sob a coordenação do educador. Ou seja, não é meramente uma técnica de ensino mais atrativa para o educando.
Entra as vantagens de trabalho através de projetos, destacam-se as seguintes: pressupõe um trabalho de elaboração coletiva envolvendo educandos e educadores; dá funcionalidade ao que será aprendido e sua duração depende do nível de abrangência do tema e do interesse do grupo; possibilita uma avaliação processual durante a seqüência de situações de aprendizagem, valorizando a função dos registros; supõe que a aprendizagem, vinculada ao fazer, resgata a atividade manual ou artesanal que a cultura vinculada à perspectiva do conhecimento globalizado ocidental tende a menosprezar; favorece a organização do currículo integrado; supõe que todos podem aprender e que possuem papéis diferentes e necessários; possibilita um contato com as práticas sociais reais; favorece a iniciação cientifica em qualquer nível de ensino.
Trabalhar por projetos, portanto, envolve sempre a resolução de problemas, possibilitando a análise, a interpretação e a crítica por parte dos educandos. Não há uma fórmula ou modelo pronto do como desenvolver projetos em sala de aula, mas sim uma postura coerente na forma de compreender e vivenciar a experiência escolar.
É preciso que o coordenador pedagógico e o docente verifiquem sua realidade, recurso, perfil das turmas, interesse, calendário pedagógico, ou seja, o contexto em que se encontram inseridos, para que o trabalho através dos projetos não se caracterize num modismo, nem seja uma obrigação ou uma única prática pedagógica.
Enfim, a metodologia empregada na Educação Adventista deve contribuir para que o educando possa estar em permanente desenvolvimento, em todos os aspectos, e o seu caráter possa ser moldado conforme o modelo do Filho de Deus, pois só assim a educação alcançará seus objetivos.

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