quinta-feira, 24 de setembro de 2009

A Prática Ministerial Requer Liderança Cristã

Para que um líder cristão desempenhe e desenvolva adequadamente a sua prática ministerial necessita primeiramente estar sujeito à Cristo e à Sua Palavra. O primeiro passo é a submissão a Deus e obediência à Sua Palavra.
O líder necessita exercer a sua função com eficiência e eficácia e ser um líder servo. Ele deve sentir que é vocacionado para a obra e sentir o peso do chamamento de Deus. Deve estar disposto a realizar o trabalho que Deus lhe atribui com satisfação e responsabilidade.
Apesar das limitações do ser humano, Deus o habilita para a Sua obra, dando-lhe os dons e talentos necessários para o desempenho de uma boa liderança. O caráter do líder é de suma importância, pois um líder que não seja exemplo para a sua comunidade não merece crédito e será um péssimo exemplo para a Igreja.
Um líder exemplar deve possuir qualidades essenciais tais como visão, dedicação, capacidade de assumir riscos, ser responsável, honesto, exemplar, ser flexível e sensível aos problemas dos liderados, possuir influência na comunidade em que atua, saber ouvir e principalmente possuir integridade de caráter e a comunidade deve confiar inteiramente nele.
Sem estas características ou qualidades, dificilmente um líder terá sucesso em sua prática ministerial, pois o líder deve ser irrepreensível, esposo de uma só mulher, deve possuir retidão de caráter, ser um líder servo, seguindo o exemplo de Jesus Cristo, que veio a este mundo para servir e não para ser servido.

A Vocação nas Práticas Ministeriais

Assim como temos dons para exercermos algum tipo de profissão, para exercermos uma determinada prática ministerial devemos ser vocacionados para tal.
É o Senhor Deus quem nos chama e quando Ele nos chama providencia os meios para que sejamos capacitados para sua obra, seja através da vida cotidiana prática ou através de um curso teológico. Deus toma a decisão e apenas somos instrumentos em Suas mãos quando deixamos que a Sua maravilhosa graça trabalhe em nós.
Foi o próprio Jesus quem escolheu os seus discípulos e não o contrário. Ele os escolheu um a um e todos, ao sentirem o chamado do Mestre obedeceram.
Não podemos confundir a vocação com talentos naturais, tradição familiar, com a aprovação em vestibulares teológicos ou com frustração e a falta de sucesso profissional. Se fosse assim, Deus chamaria apenas os fracassados em suas profissões. No entanto, Ele deseja que Seus filhos sejam vencedores em todas as esferas da vida.
O Senhor Deus olha o interior e não o exterior do homem, pois conhecimento e erudição não são pré-requisitos para o ministério eclesial. Caso contrário, Ele chamaria apenas os mais preparados intelectualmente.
Portanto, existem vários fatores para que o vocacionado possa sentir o chamado de Deus. Além de sentir a convicção pessoal do chamado de Deus, também precisa da participação humana na vocação. Ele necessita da aprovação da Igreja, pois ela será o termômetro para identificar se um indivíduo possui o chamado de Deus e as qualificações necessárias para o desempenho do futuro ministro do evangelho.

Entendendo as práticas ministeriais

Atualmente exerço na congregação em que freqüento (Igreja Adventista do Sétimo Dia), a função de líder de pequenos grupos (igrejas em células) e professor de escola sabatina, também denominada de professor de “escola dominical” em outras denominações evangélicas.
Desde que senti o chamado do Senhor Jesus para a Sua seara sempre tive a vocação para o ensino bíblico. Este é um departamento no qual me adapto muito bem e sinto prazer em exercê-lo.
Acredito que o presente curso de teologia veio trazer os subsídios teóricos e práticos para uma função que exerço na prática há mais de oito anos. Na igreja podemos encontrar várias práticas ministeriais diante da grande diversidade de dons dos membros e o curso teológico possui a função de nos qualificar para tal mister.
No curso de teologia recebemos não somente conhecimentos teóricos provenientes das disciplinas bíblicas, mas também adquirimos conhecimentos de outras ciências humanas auxiliares, tais como a filosofia, a sociologia, a psicologia, a metodologia, etc.
Estes conhecimentos das ciências auxiliares possuem a função de capacitar o teólogo para a atuação diante da sociedade como ministro do evangelho, nas comunidades, empresas, instituições e em vários grupos onde necessitam de um profissional qualificado academicamente.
Diante disso, podemos afirmar que o curso de teologia é de suma importância para a prática ministerial e possui as condições e subsídios teóricos necessários para o sucesso do vocacionado a ministro do evangelho

sábado, 5 de setembro de 2009

O preço do chamado

O perigo do desgaste ministerial

Os caminhos que levam à carreira eclesiástica podem até variar: das salas de aula de um seminário teológico à consagração direta ao ministério após anos de dedicação e formação numa outra função. No entanto, o que costuma ser igual em todos os casos é o desejo e a expectativa que transbordam no coração do novo pastor. Mas, nem tudo são flores. Ao contrário. Entre o chamado e a consolidação ministerial, muitos desafios têm de ser superados dia a dia. O suor, na maioria das vezes, se mistura às lágrimas e ao longo do tempo as dificuldades acabam interrompendo o sonho de muitos que um dia abdicaram de tudo para se dedicar exclusivamente à igreja.

De acordo com levantamento do Ministério de Apoio a Pastores e Igrejas (Mapi), cerca de 80% das disciplinas dos seminários no país estão voltadas para formar teólogos e não pastores ou líderes. Na visão da entidade, os cursos teológicos, se quiserem ser diferenciais na vida dos futuros ministros, precisarão focalizar em novas matérias na grade curricular como gestão, trabalho em equipe, mentoria, discipulado de líderes, princípios de educação de adultos, a chamada andragogia, resolução de conflitos e terapia familiar. Somente assim, formandos deixarão de sair das salas de aula apenas com conhecimento teórico, mas também entendendo da amplitude que é apresentada na vida eclesiástica cotidiana.

O medo de não corresponder – a Deus e as pessoas ao redor – é apontado pela entidade como um dos fatores responsáveis por grande parte das desistências do ministério e fracassos. A necessidade de aceitação, de corresponder, de mostrar trabalho e de realização são desafios internos a serem vencidos. Muitos pastores, em decorrência disto, acabam entrando no ativismo desenfreado e abrem mão dos fundamentos soberanos tão importantes no início do ministério, como oração, Palavra, obediência e integridade.

“Mudar o paradigma de “super-homem” – tenho que ser forte - e buscar apoio de outros colegas pastores e de um mentor mais experiente é o melhor caminho”, enfatiza Marcelo Fraga, coordenador do Mapi no Nordeste e pastor da Igreja Batista Filadélfia, em Natal/RN. A solidão ministerial e as pressões por conquistar um ministério de sucesso agravam estes fatores. De acordo com ele, boa parte dos pastores morre com problemas relacionados à pressão arterial e infarto. Pesquisas recentes mostram ainda que apenas 1/3 dos líderes cristãos terminam bem a carreira ministerial, enquanto os outros 2/3 não conseguem alcançar seu pleno potencial e apresentam quadros de frustração.

Pastor Joel Stevanatto, presidente da OBPC do Mandaqui, em São Paulo, é presidente da Missão Desafio

Formando teÓlogos, nÃo pastores

O ministério é um lugar de intensa pressão – e isso é inquestionável. Soma-se a isso, o fato de a igreja estar sempre dispensando atenção redobrada a cada passo do jovem pastor, a fim de constatar se ele irá suportar as altas temperaturas do trabalho eclesiástico. Mestre de Teologia em Estudos Bíblicos pelo International Biblical University e professor na cadeira de Teologia do Novo Testamento, Marcos André Cândido vive na pele todo esses desafios. Com apenas 27 anos de idade, é há um ano um dos pastores da Igreja O Brasil para Cristo em Nova Friburgo, Região Serrana do Rio de Janeiro. Ele acredita que, caso a formação teológica do novo ministro tenha sido enriquecida por um corpo docente experimentado nos laboratórios da vida eclesiástica, certamente estará um passo à frente dos demais. “Nossos seminários estão repletos de Mestres em Teologia, mas que são neófitos na prática ministerial”.

Pastor presidente da igreja O Brasil para Cristo do Mandaqui, em São Paulo, com mais de 1.200 membros sob sua responsabilidade direta, Joel Stevanatto afirma que a inexperiência pode produzir a sensação no coração do pastor de convicção absoluta e isso pode acabar levando o novo líder a uma (perigosa) independência de Deus. “Nesse caminho ele se torna precipitado em decisões e dependendo do perfil de cada novo pastor os sintomas serão expressos de maneiras diferentes”, frisa.

É nesse momento que algumas reações podem surgir com maior intensidade e revelar os que são sonhadores e começam a planejar coisas mirabolantes e terminam no campo da frustração, e outros que são medrosos e acabam completamente paralisados. Aliás, o bombardeio a qual está submetido quem está à frente de uma igreja, sobretudo em se tratando de um líder inexperiente, pode gerar uma série de problemas de ordem psicossomática, como síndrome do pânico, em graus mais elevados, e também de ordem física, como arritmia cardíaca, dificuldades na fala e gastrite –esta última entre as mais comuns.

“Na verdade, tudo isso tem como causa primária a difícil correlação entre a ansiedade pelos resultados e os resultados em si de um trabalho que se inicia. Uma expectativa frustrada pode ser fatal”, alerta a psicanalista Sueli de Almeida, que diz ainda ser necessário em muitos casos o acompanhamento de um terapeuta.

A diversidade cultural, de faixa etária e social não consegue resumir todo o leque de desafios para quem assume a responsabilidade de conduzir um povo. Na verdade, é apenas parte disso. Neste pacote há espaço ainda para a desconfiança de líderes mais experientes, que muitas vezes se sentem ameaçados pelo novato, a falta de material humano para o desenvolvimento de projetos e ações que vão garantir maior respaldo ao trabalho, e ainda a ausência de recursos financeiros que impede a realização de novos trabalhos. Neste momento, criatividade e perseverança parece ser a receita para quem pretende seguir adiante. Por mais paradoxal que seja o momento de maior fragilidade de um pastor é justamente não querer demonstrar a sua fragilidade. Alguns enfrentam problemas sérios pessoais, eclesiásticos e por não terem sidos treinados a buscar ajuda arriscam numa solução. Um dos coordenadores da Equipe de Liderança do Sepal (Servindo Pastores e Líderes), no Rio de Janeiro, Ayr Correa Filho garante que pedir auxílio a pastores mais experientes não é sinal de fraqueza, mas de sabedoria do novo ministro.

“Pastor precisa demonstrar que é gente como demais membros da sua igreja. Basta se apresentar para ser pastoreado também. Isto o torna mais forte e capaz”, aposta Ayr, que é o pastor presidente da Terceira Igreja Batista em Rocha Miranda, no Rio, e tem bacharelado em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil.

Por certo, o maior temor de um pastor recém-consagrado é, mesmo sendo um pastor de direito, não se tornar um pastor de fato. Ter o título, mas não exercer a influência pastoral na vida das pessoas, é inquietante, quase um fantasma. Há um provérbio de liderança que diz: “Aquele que pensa que lidera, mas não tem seguidores, está apenas passeando”. O grande temor, sem dúvida, é passear ao invés de apascentar.

Daniel Galvão
EDIÇÃO 86 - REVISTA ENFOQUE GOSPEL

Diálogo inter-religioso

Entre fevereiro e julho de 2006, pesquisadores da Argentina, Brasil, Nicarágua e Peru ouviram lideranças eclesiásticas e institucionais a respeito do ecumenismo na América Latina. A pesquisa, a pedido da Assembléia Geral do Conselho Latino Americano de Igrejas (Clai), foi apresentada em Buenos Aires, capital da Argentina, e traçou um perfil sobre o movimento. Um desses pesquisadores foi Darli Alves de Souza, de 39 anos. Doutorando em Ciências da Religião pela PUC e membro da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil (IPIB), nesta entrevista à Enfoque ele afirma que o ecumenismo não é utopia e que é preciso sair do conceito reduzido de mesa de comunhão estritamente cristã e buscar respeito e entendimento com outras culturas e religiões. O pesquisador defende ainda que a mesa da comunhão deva dar acesso aos excluídos que estão espalhados pelo planeta.

ENFOQUE – Qual é a síntese do movimento ecumênico na América Latina?

DARLI ALVES – É a busca da unidade em meio à riqueza da diversidade do povo de Deus. Isso se consolida por meio de várias iniciativas na área dos direitos humanos, juventude, saúde, meio ambiente e reflexões bíblico-teológicas, entre várias outras.

ENFOQUE – No Brasil, qual é a realidade desse movimento?

DARLI ALVES – A realidade é a busca de unidade e não-duplicação de esforços através da construção de redes de articulação para atuar de maneira concreta dentro e fora das igrejas. É necessário compreender que o ecumenismo não se dá apenas no espaço eclesiástico. Ele se dá também em várias outras iniciativas da sociedade, como, por exemplo, em entidades que não têm vinculação direta com alguma igreja.
A dimensão ecumênica vai além da dimensão religiosa; caminha na direção da integridade da natureza e respeito ao meio ambiente. Todas essas questões são integrantes de uma concepção ampla e adequada de ecumenismo. Portanto, quando se participa de iniciativas que envolvem direitos humanos e ambientais, elas são exemplos de participação ecumênica, muito embora o movimento ecumênico seja muito mais conhecido por suas iniciativas vinculadas ao cristianismo de maneira geral.

ENFOQUE – A que conclusão foi possível chegar através dessa pesquisa? O que há de novo, se comparado aos outros países ouvidos?

DARLI ALVES – O que se pôde perceber é que não há diferenças significativas em termos latino-americanos. Há, sim, muito mais elementos em comum nesse sentido. Um desses desafios é a necessidade de encontrar novos paradigmas que possam fazer frente aos desafios que novas realidades sociais e eclesiais apresentam. Isso vai melhorar a incidência pública, ampliar os mecanismos de inclusão e reconhecer que os caminhos da unidade se constroem a partir da diversidade de expressão da experiência ecumênica – e que estas são protagonistas na construção de pontes entre a igreja e a sociedade.

ENFOQUE – O que é preciso para aprofundar o diálogo entre protestantes e católicos e eliminar tendências sectárias e hegemônicas?

DARLI ALVES – É necessário ter uma cultura de respeito para enxergar a riqueza da diversidade do povo cristão. Cada ramo do cristianismo tem o seu valor e sua contribuição a dar para que o mundo em que vivemos possa ser melhor em todos os sentidos. Somente um espírito e uma mentalidade de paz, cooperação e solidariedade poderão levar ao completo entendimento e unidade entre os povos, não só cristãos, mas de outras religiões também. Um elemento que deve ser superado é a sede de poder que por vezes permeia as reflexões e discussões. É necessário superar a mentalidade de que quantidade de fiéis seja sinal de graça, poder e sucesso.

ENFOQUE – Há alguma razão e estigma para o ecumenismo ser demonizado no Brasil, principalmente entre os pentecostais e neopentecostais? O que é verdade e o que é mentira acerca desse tema?

DARLI ALVES – O ecumenismo foi estigmatizado no período da ditadura militar no Brasil, entre os anos 60 e 70. Nesse período, certas lideranças cristãs, cooptadas pelo sistema ditatorial perverso, afirmavam que ser ecumênico era ser comunista, ser contra os interesses da nação, e em setores mais radicais, coisa do demônio. Isso caiu no senso comum do imaginário cristão, principalmente nos setores conhecidos como evangélicos e pentecostais do protestantismo brasileiro.

A meu ver, não há qualquer motivo ou razão para que se associe ecumenismo com coisa do demônio ou algo que o valha. O que se pretendia na época mencionada acima era uma sociedade mais justa e igualitária em meio a tanto cerceamento das liberdades mínimas da pessoa humana. As lideranças ecumênicas do Brasil e da América Latina, em geral, prestaram um excelente serviço não só de reflexão bíblico-teológica como de ação libertária das ações violentas e opressoras.

Esses líderes ecumênicos de vanguarda foram verdadeiros baluartes na busca de garantir uma vivência libertária do Evangelho de Jesus Cristo. Levantaram a sua voz profética contra os abusos das autoridades constituídas da época e, por isso, foram perseguidos, torturados e até mortos. Muitos deles foram delatados por líderes de dentro de suas próprias igrejas locais, e nem por isso se calaram ou deixaram de agir. O grande legado que possuímos dessa geração de profetas e profetisas ecumênicos foi o rompimento do sistema opressor para, junto com outras lideranças de outros setores da sociedade, construir um país mais democrático, mais igualitário e mais humano.

ENFOQUE – Por que alguns itens do ecumenismo não saem do papel? Há muito discurso e pouca prática?

DARLI ALVES – Quem afirma isso é porque não conhece a realidade ecumênica e suas ações. Um olhar mínimo para a realidade faz com que esta pergunta caia por terra completamente. Há muitas ações que não estão na mídia e que fazem parte da ação prática do ecumenismo. Muitas vezes o movimento ecumênico faz o trabalho da “formiguinha” e obtém grandes resultados que, por vezes, não são atribuídas às suas ações.

ENFOQUE – Quais são os prós e os contras do ecumenismo? E que conseqüências sobre as igrejas haveria se elas abrissem mais espaço para esse tipo de movimento?

DARLI ALVES – Não vejo qualquer elemento contra o ecumenismo. O que se deve ter é cuidado para não confundir ecumenismo com ajuntamento de igrejas ou religiões. Isso, sim, representa um grande perigo para o ecumenismo, mas até o presente momento, eu não visualizo nenhuma iniciativa verdadeiramente ecumênica que vá nessa direção. Para aquelas igrejas que não têm a oportunidade de participar desse movimento de maneira mais direta, estão perdendo uma grande chance de fortalecer sua própria identidade, trocar experiências com irmãos e irmãs de fé, bem como com iniciativas que não estão vinculadas diretamente ao cristianismo.

Ser ecumênico é, para mim, um pressuposto básico para ser cristão. Além do mais, é através da riqueza da experiência das diferentes igrejas espalhadas pelo Império Romano, no período apostólico, que podemos nos inspirar para agir ecumenicamente e participar do movimento sem medo de estarmos sendo contraditórios com a Bíblia.

ENFOQUE – O ecumenismo é possível ou uma utopia?

DARLI ALVES – O ecumenismo não só é possível, como ele existe na prática do cotidiano. O que ocorre é que, muitas vezes, várias iniciativas, encontros, congressos, eventos, projetos sociais, manifestações de incidência pública, são ecumênicos, mas por vários motivos as pessoas de igrejas cristãs não assumem o caráter ecumênico da ação. Essa é uma discussão longa e interessante porque, para certos setores do cristianismo, a palavra ecumênico ou ecumenismo são proibidas. Daí muitas iniciativas ecumênicas serem chamadas de interdenominacionais, intereclesiásticas, paraeclesiásticas ou não-denominacionais.

Por outro lado, há de se mencionar que há uma caminhada a percorrer para se atingir a plenitude do ecumenismo quanto à superação de certos entraves, entre eles, os existentes no âmbito cristão: as questões sobre batismo, eucaristia e ministérios. Nessa direção, o Conselho Mundial de Igrejas (CMI) publicou um interessante estudo (livro publicado pelo CONIC) com o mesmo nome – Batismo, Eucaristia e Ministérios (BEM). Esse estudo mostra os entraves, principalmente dentro do cristianismo, para a construção de uma unidade mais ampla.

Quanto ao diálogo inter-religioso que promova uma relação de direitos iguais entre as diferentes manifestações religiosas, também há muito que se caminhar. É necessário que muitos setores do cristianismo deixem de demonizar outras manifestações religiosas para a construção de uma cultura de respeito e paz entre as pessoas. Assim como os cristãos, as outras religiões devem possuir direitos e deveres como cidadãos que convivem em um mesmo mundo. Nós, cristãos, não devemos nem podemos achar que, porque somos cristãos, somos mais humanos do que outras pessoas que professam outra fé religiosa. Que somos mais dignos e que temos mais direitos que outras pessoas. Se essa mentalidade não se reverter, as conseqüências podem ser ainda mais graves do que já se presencia na atualidade.

Celso de Carvalho
REVISTA ENFOQUE GOSPEL - EDIÇÃO 77

Breve Histórico da Missão Integral

O texto "Missão, Evangelização e Diakonia", de autoria de Pedro Triana inicialmente nos apresenta o conceito de espiritualidade: “Espiritualidade é sentir-nos comprometidos e enviados em missão, clérigos e leigos, na luta pela vida e pelo Reino”. No conceito acima apresentado, o autor enfatiza que todos temos de nos unir na missão de Deus no mundo, ou seja, missionários, clérigos e leigos, todos devem se envolver cotidianamente com o Deus vivo e deixar-se consumir pelo fogo transformador e renovador do Espírito Santo.
O autor aponta dois erros fundamentais e concretos com relação às origens do cristianismo. Um de ordem cronológica e outro de ordem geográfica. No erro cronológico, o “Movimento de Jesus” sempre existiu. Primeiro veio a sua Missão, depois a Igreja. Já o erro geográfico apresenta uma visão distorcida ocidental, nortista, branca e desorientada das origens do cristianismo.
O autor enfatiza a necessidade de se recuperar a memória dos empobrecidos, dos excluídos e dos marginalizados, como centro da identidade do cristianismo.
A missão e evangelização devem ser anunciadas por meio de ações e de palavras. Deve-se, portanto, evangelizar mediante a prática, que inclui palavra e ação, o Reino de Deus.
A igreja tem por finalidade anunciar a Palavra de Deus e proclamar as boas novas do Reino para os pobres, os fracos, os discriminados, os marginalizados e os excluídos.
O coração da igreja deve ser, portanto, a diakonia. Esta é a própria razão de ser da igreja. Ela foi estabelecida para servir e não para ser servida. O objetivo principal dos seguidores de Cristo é a lei do serviço abnegado aos necessitados. Deus quer que tenhamos vida abundante e com qualidade. Somente através da solidariedade e da sensibilização é que a comunidade cristã poderá ser agente de mudança e de transformação de uma sociedade mais fraterna, justa e igualitária.
O autor conclui o seu texto nos apelando para a evangelização e proclamação extra-eclesial, ou seja, para fora da igreja, macro-ecumênica e amplamente inclusiva, pois, conforme a opinião de Boff, citada pelo autor, ninguém detém o “monopólio da revelação divina e dos meios de salvação”. Jesus Cristo veio para todos. Ele não faz distinção de etnia, credo ou cor da pele. Por isso Jesus Cristo nos conclama para reformularmos a nossa visão missiológica pelos caminhos da solidariedade, transformação e inclusividade na igreja.
Já o texto de autoria de Ivo Xavier de Oliveira, intitulado "Uma Reflexão Sobre a Evangelização e a Renovação do Anglicanismo, apresenta a opinião de um conceituado professor Dr. Jaci Correia Maraschin, da Metodista, de São Paulo.
De acordo com a opinião daquele renomado professor, a igreja necessita criticar as suas próprias estruturas, com o objetivo de transformá-la, pois a mesma ainda se encontra escrava do tradicionalismo e numa estrutura arcaica. Ainda, em conformidade com o professor, deve haver a inculturação do Evangelho no contexto social brasileiro, pois a prática pastoral nem sempre está prestando atenção a esta realidade social.
O sagrado já não pode mais ser considerado como o monopólio de uma igreja tradicional, por uma religião predominante, principalmente pela Igreja Católica Apostólica Romana que ainda se faz presente na sociedade brasileira.
Diante da grande diversidade religiosa no contexto social brasileiro, o autor enfatiza a necessidade de uma pastoral inclusiva e inculturada. Podemos pregar a Cristo sem, no entanto, eliminarmos outras culturas, tais como os povos africanos, os indígenas e outros segmentos religiosos.
Portanto, o autor nos apela para uma evangelização inter-religiosa e ecumênica, pois vivemos diante do pluralismo religioso e todas as religiões devem ser respeitadas, pois a religião faz parte do patrimônio cultural de uma sociedade e o monopólio do sagrado jamais poderá estar nas mãos de um único e exclusivo caminho. Deus faz nascer o sol sobre justos e injustos. Sobre fiéis e incrédulos. Ele não faz acepção de pessoas. Ele veio para todos e todas.

Missão Integral e o Pacto de Lausanne

O Pacto de Lausanne foi um documento redigido no final do evento denominado Congresso Mundial de Evangelização de Lausanne, ocorrido em 1974, na cidade de Lausanne, Suíça, época em que foi criado um comitê mundial das igrejas evangélicas. O referido pacto estabelece paradigmas para a vivência da fé cristã e faz uma reflexão para a ação da igreja evangélica em todo o mundo.
Em virtude da tarefa inacabada da pregação do evangelho, o pacto apresenta resoluções para que a tarefa de evangelização seja concluída. O evangelho são as boas novas de Deus para todo o mundo e não somente para o indivíduo. Desta forma, tal pacto tem a proposta de proclamar Jesus Cristo para toda a humanidade e para todas as nações, fazendo, assim, discípulos em todas as nações.
Devido ao iminente retorno de Cristo, há necessidade urgente de concluirmos a missão de Deus para os nossos dias, ou seja, pregar a Palavra com o objetivo de salvar o ser humano do pecado e conduzí-lo para a vida eterna.
Para que a pregação seja concluída é necessário que haja esforço conjugado de todas as igrejas, independentemente de placa denominacional.
Diante disso, os cristãos possuem propósito e responsabilidade social na evangelização dos povos, sem distinção de raça, cor ou condição social e, para isso necessitam se unir e cooperar na evangelização e propagação das verdades bíblicas deixadas pelo nosso Deus para a nossa salvação.

Mandato Cultural

Ao homem criado por Deus foi dado domínio sobre tudo o que os seus olhos poderiam contemplar, pois ele foi feito à imagem e semelhança de Deus. Desta forma podemos afirmar que o ser humano teve origem pelas mãos do próprio Deus criador. O homem não evoluiu de uma bactéria ou primata, nem tampouco surgiu de uma explosão. Ele é criatura e filho do Deus Altíssimo, criador e mantenedor de todo o universo.
Quando Adão e Eva foram postos no Jardim do Éden, foram estabelecidos como mordomos. A palavra mordomo tem o significado de “administrador de uma casa ou de um estabelecimento alheio” . O administrador é “o que dirige ou superintende estabelecimento público ou particular”
Aos habitantes do Jardim do Éden lhes foram confiados o cuidado do jardim, “para lavrar e guardar”. Neste sentido, podemos dizer que ao homem foi confiado o cuidado do planeta. O domínio sobre tudo não significa que o homem deva agir de forma irresponsável, escravizando os próprios irmãos, extinguindo a fauna, a flora, os rios e mares. Enfim, ele deve cuidar e preservar a natureza.
Portanto, o ser humano deve agir de forma responsável perante a criação de Deus. Ele deve respeitar o meio ambiente e agir conscientemente dentro de uma ética cristã da responsabilidade, pois ao final, prestará contas ao seu Senhor de tudo o que lhe foi confiado.

REFERÊNCIAS:

Boyer, Orlando. Pequena enciclopédia bíblica – São Paulo: Editora Vida, 2006, 2. ed.
Idem, p. 29.

A Base Bíblica da Missão Integral.

O capítuo 5 de Neemias expõe a pobreza, a escravidão e a fome por que passava a nação de Israel, devido à usura e exploração dos fracos pelos poderosos, dentre os próprios irmãos do povo.
De tanta exploração que havia, foi necessária a criação de leis específicas regulamentando a escravidão dos servos e o cuidado pelos pobres e necessitados.
O capítulo 5 de Miquéias aponta para a promessa do nascimento do Messias e o seu reinado que deveria vir para libertar o povo do Judá do seu próprio julgo e das nações inimigas, sanguinárias e impiedosas.
No livro de Lucas, Jesus se se apresenta como o cumpridor das profecias de Isaías, como o libertador dos cativos e para pôr em liberdade os pobres e oprimidos do poder escravizante da elite dominante. No entanto, apesar de Jesus preencher todos os requisitos para ser o Messias, foi rejeitado pelo seu próprio povo, o qual deveria tê-lo reconhecido como aquele traria paz e libertação aos cativos.
Diante da leitura dessas passagens bíblicas, podemos afirmar que desde aquela época já havia exploração e dominação dos pobres e oprimidos, até mesmo dentro da própria nação de Israel, a qual deveria ser exemplo de bondade e misericórdia para com as nações vizinhas.
Deus sempre se preocupou com as necessidades físicas e espirituais de seu povo. Ele se preocupa com os pobres deste mundo e exige que todos os povos e governantes dêem também atenção especial aos necessitados. Diante disso, podemos afirmar que Deus sempre fez uma clara opção preferencial pelos pobres e oprimidos, o humilhado, o desesperado, o fraco, desamparado, destituído, carente, a viúva, o estrangeiro e todo aquele que clama por justiça.
A mensagem de Cristo, como Messias veio de encontro às necessidades do povo sofrido e oprimido de sua época e, ainda nos dias atuais necessitamos dessa poderosa mensagem que poderá nos libertar da opressão e da escravidão dos poderes dominantes e de um inimigo mortal denominado de pecado do egoísmo.